A VERDADE DO EVANGELHO

MEMÓRIAS DE CHARLES G. FINNEY

por Charles G. Finney

CAPÍTULO I

 

NASCIMENTO E PRÉ-EDUCAÇÃO

 

Agradou a Deus de algum modo ligar o meu nome e labor a um extensivo movimento da igreja de Cristo, aquilo a que muitos chamam de 'uma nova era', muito especialmente no que toca a avivamentos religiosos. Como este movimento contribuiu consideravelmente para um desenvolvimento da visão da doutrina cristã que nada de comum tem para muitos, as quais nasceram através da necessidade de engendrar meios distintos e novos para alcançar perdidos através do evangelho, seria apenas de esperar que nascesse com isso também uma certa má compreensão sobre os mesmos princípios doutrinários que fizeram promover estes avivamentos, tal como sobre o simples uso dos mesmos; consequentemente, até homens bons foram levados a questionar tanto a sabedoria destes mesmos módulos, como a sua saúde teológica e também homens ímpios ficaram irritados contra eles e através do tempo envolveram-se extenuadamente numa oposição aberta aos mesmos.  

Falo de mim mesmo apenas como alguém ligado a estes mesmos movimentos, tal como muitos outros ministros e servos de Cristo, os quais partilharam e comparticiparam dele e na sua promoção, proeminentemente. Estou de certa forma consciente que uma boa parte de toda a igreja me acabou por considerar um inovador, tanto no que toca à doutrina como nos meios usados; e que também me consideram e destacam como maioritariamente responsável pelo assalto a algumas formas e expressões de pensamento teológico, usando uma nova linguagem para ter como expressar a verdade do evangelho de muitas maneiras.

Acabei por ser importunado durante muitos anos pelos amigos desses mesmos avivamentos com os quais estou inevitavelmente ligado, para relatar a história dos mesmos. Como prevalece uma certa incoerência na compreensão destes avivamentos, é de esperar sempre que a verdade sobre as coisas exijam de mim uma certa exposição das doutrinas que foram usadas e pregadas, os métodos e meios usados para tais fins e o alcance dos mesmos.

A minha mente opõe-se desde logo a uma tal exposição dos factos, pois tende a recolher-se em si mesma, por me sentir forçado a falar de mim mesmo, relacionando-me à consumação dos mesmos. Foi muito principalmente por esta simples razão que até hoje declinei tal convite de pegar as rédeas duma tal obra. Ultimamente, os fundadores de Oberlin College puseram a questão diante de mim de novo, instigando-me a fazer aquilo que minha mente se recusa a fazer prontamente. Eles, juntamente com muitos amigos neste país e também em Inglaterra, assinalaram que devia algo à obra de Cristo e que uma melhor compreensão deveria prevalecer na igreja que até hoje existiu, especialmente sobre aqueles avivamentos que ocorreram desde o centro de Nova York a muitos outros lugares, desde 1821 e durante muitos anos a fio, especialmente porque tais avivamentos foram sempre muito criticados e mal vistos, crescendo uma grande oposição aos mesmos por serem verdadeiros.

Aproximo-me desta tarefa com muita relutância por variadíssimas razões. Não guardei nenhum diário e por isso dependo apenas da minha memória. É de realçar que a minha memória é tenaz e que o os acontecimentos que testemunhei nestes avivamentos impressionaram de tal forma a minha mente, que me recordo de todos os seus pormenores com relativa clareza, muitos mais pormenores que aqueles para os quais disponho do devido tempo para os relatar. Qualquer pessoa que haja presenciado avivamentos poderosos, toma desde logo nota da profunda convicção e conversão nos casos que se sucedem de forma diária e constante e do enorme interesse que provocam naquelas pessoas envolvidas neles. Quando e onde os factos são sobejamente conhecidos de todos, um efeito arrepiante toma conta de todos. Serão tão numerosas as muitas ocorrências num avivamento destes que, se todos os factos nele produzidos fossem narrados, muitos volumes inteiros se produziriam.

Não pretendo seguir esse método de exposição. Vou apenas relatar o suficiente para expressar uma ideia muito generalizada das ocorrências e de como se deram estes acontecimentos no geral. Também pretendo relatar algumas das muitas conversões que se foram dando em lugares diferentes. Procurarei dar uma exposição das doutrinas usadas e ensinadas, dos meios usados para alcançar os efeitos que se deram, mencionando as ocorrências de maneira a que a igreja possa estimar e avaliar tanto o poder como a pureza desta obra poderosa de Deus.

Também hesito narrar estas ocorrências, porque muitas vezes fui surpreendido pela minha própria recolha dos factos tal qual eu os presenciei e vivi, serem distintas e diferentes da recolha de outras pessoas envolvidas nos mesmos acontecimentos. É claro que devo apenas relatar tal qual eu me recorde dos mesmos. Mencionei e referi muitas vezes em meus próprios sermões como forma de ilustrar verdades a quem me ouvia, os factos que aqui irei narrar. Tantas vezes me referi a eles durante tantos anos de ministério que, não posso senão estar plenamente confiante de estar capacitado para os recordar substancialmente bem, tal qual se deram. Se por acaso se der a ocorrência de confundir a verdade dos factos, ou se as minhas recolhas de memória forem distintas daquelas de outras pessoas, confio que as pessoas irão crer que aquilo que aqui relato, está de inteiro acordo e em plena conformidade com a minha presente capacidade de memória. Estou agora com setenta e cinco anos de idade (1867-68). É notório que recolho e recordo melhor aquelas coisas que se deram há mais tempo atrás, do que aquelas de recente desenvolvimento. Em relação directa às doutrinas usadas para pregar, no quanto a mim me toca e também nos meios que usei para promover estes avivamentos, penso não poder errar na veracidade da sua divulgação sequer. Mas, para fornecer uma distinta vista panorâmica destas muitas cenas a todos se excepção, será de absoluta necessidade optar por um certo rumo de expor as muitas razões que sempre me levaram a adoptar certas doutrinas visionárias às quais de coração me entreguei em seu uso, na sua forma distinta de pregar e às quais muito boa gente se opôs.

Vou começar por relatar as circunstâncias do meu nascimento, da educação prévia à minha conversão a Cristo, da conversão em si, dos meus estudos teológicos e da minha entrada no ministério. Não vou escrever uma auto-biografia, entenda-se desde já, mas sim um relato dos acontecimentos da igreja nos quais estou envolvido particularmente, mas não mais do que o necessário para simplesmente ter como fornecer uma relação inteligente e breve das mesmas ocorrências factuais, de forma que se obtenha uma ideia fiel de todos os factos das muitas movimentações da igreja.

Nasci em Warren, Litchfield County, Connecticut, em 29 de Agosto de 1792. Com cerca de dois anos de idade, meu pai foi viver para Oneida, Nova York, que naquela altura era pouco mais que uma vasta floresta. Não havia quaisquer privilégios religiosos naquele tempo. Muito poucos livros havia disponíveis sobre o assunto. Muitos dos imigrantes oriundos de Nova Inglaterra, desde logo haviam estabelecido as suas escolas por ali. Mas muito pouca gente estaria exposta a uma inteligente exposição do evangelho. Tive privilégios escolares, durante verão e Inverno, até aproximadamente quinze ou dezasseis anos de idade. Estudei até ser tido como capaz de ensinar outros nessas mesmas escolas, da mesma maneira como estas escolas eram então conduzidas no ensino.

Os meus pais não professavam religião sequer, creio mesmo que mesmo entre os meus vizinhos poucas pessoas haveria que professassem qualquer religião. Raramente ouvi um sermão, com excepção dum ocasional pregador que por ali pretendesse passar, ou dum qualquer miserável que se punha como um pregador ignorante, daqueles que por ali havia por vezes. Recordo que a ignorância desses pregadores seria tal, que as pessoas depois da pregação passavam momentos hilariantes de risada pelos muitos erros no falatório e por causa dos absurdos que saíam de suas bocas. Na vizinhança da casa de meus pais, foi erguida uma casa de reuniões ministeriais, mas assim que ficou pronta meus pais abandonaram o local para se estabelecerem na floresta de Lake Ontário, um pouco a sul de Sackets Harbor. Aqui também, mesmo vivendo lá durante alguns anos, nunca presenciei melhores privilégios religiosos que os anteriores em Oneida County.

Com cerca de vinte anos de idade voltei para Connecticut, logo de seguida para Nova Jersey, perto da cidade de Nova York onde me envolvi no ensino. Ensinei e estudei o mais que pude. Por duas vezes voltei a Nova Inglaterra para frequentar o colégio superior durante uma época de cada vez. Foi por ali que pensei entrar no Yale College. Quem me ensinava era alguém formado lá, mas aconselhou-me a não ir para lá. Disse-me que seria uma imensa perda de tempo, pois poderia muito bem conseguir adquirir o mesmo curriculum por ali naquela instituição num espaço de dois anos, quando o mesmo me levaria quatro em Yale. Este homem apresentou as suas considerações de tal forma que me convenceram e por essa razão não tive como estudar mais naquele tempo. Contudo, depois disso ainda cheguei a adquirir alguns conhecimentos de Latim, Grego e Hebraico. Mas nunca fui um estudante muito clássico e nunca adquiri o desejado conhecimento dessas línguas ancestrais para de qualquer forma poder a vir questionar ou criticar de forma independente a nossa tradução inglesa da Bíblia sequer.

O professor a que fiz referencia, desejava que eu me juntasse a ele na condução duma academia num dos estados do sul. Estava inclinado a aceitar essa proposta sob a pretensão de continuar a minha aprendizagem sob sua tutela. Mas assim que informei meus pais sobre o assunto, os quais não via há cerca de quatro anos, ambos vieram ter comigo prevalecendo nos seus argumentos de me convencerem a ir com eles para Jefferson County, Nova York. Depois de visitá-los, conclui entrar como estudante de advocacia, nos escritórios de Squire W, em Adams, nessa região. Era então Outono em 1818.

Até aqui, nunca havia gozado de qualquer coisa perto de ser um privilégio religioso. Nunca pude viver de perto numa comunidade de oração, com excepção de quando frequentava aquela escola em Nova Inglaterra. Mas mesmo lá, aquela religiosidade precária não serviu sequer para atrair a minha curiosidade. As pregações eram fornecidas por um excelente homem velho do clero, amado e venerado por todos os seus. Mas lia os seus sermões de tal forma que nunca chegaram a impressionar a minha mente. Tinha uma forma monótona de tambor no ler daquilo que provavelmente havia escrito muitos anos antes.

Para dar uma ligeira ideia da suas pregações, permitam-me dizer que os seus sermões manuscritos dariam apenas para meter numa pequena Bíblia. Assentava-me na galeria e dali observava que ele punha sempre os seus manuscritos no meio da Bíblia, pondo seus dedos espalhados pelos muitos sítios onde teria de ir buscar muitos dos textos que ele necessitava na sua pregação. Por essa razão, necessitava de suas duas mãos para segurar a sua Bíblia, coisa que não lhe permitiam fazer qualquer uso de gesticulação requerida para o efeito. Conforme ia avançando, ia libertando os seus dedos um a um na medida que ia lendo os devidos textos que teria para fazer uso. Assim que todos os seus dedos estivessem soltos e livres, o sermão terminava. A leitura que fazia dos seus sermões, nada tinha de convincente, apenas de simples monotonia. Mesmo que as pessoas atendessem aos muitos cultos, fiel  e reverentemente, confesso que para mim nunca serviram para nada.

Assim que abandonávamos os cultos, ouvia sempre comentários sobre os seus sermões e nalguns casos as pessoas até se questionavam sobre se ele estivera fazendo alguma alusão a alguém ou algum pormenor entre eles, no seu meio. Parecia-me mais uma questão de curiosidades sobre o que pretendia alcançar através de suas palavras, especialmente quando houvesse algo mais que discussão de mera doutrina nas suas palavras lidas. Esta haviam sido as melhores pregações que ouvira até então. Mas qualquer um poderá imaginar se seria caso para um jovem perdido e desinteressado se de algum modo atraído por tal coisa, como se tal forma de persuasão o pudesse instigar a instruir-se em tal coisa. Quando ensinava em Nova Jersey, os sermões locais eram maioritariamente feitos em alemão. Penso que nem sequer meia dúzia de sermões ouvi em inglês durante a minha estadia ali, que foi de cerca de três anos. Assim, quando fui para Adams estudar direito, era tão ignorante em relação a religião quanto o seria qualquer pagão mal informado. Cresci maioritariamente dentro da floresta, não considerava o Sábado ou Domingo e nunca dispusera até ali de qualquer conhecimento de verdade religiosa. 

Foi em Adams que pela primeira vez me expus e sentei longamente sob um ministério educacional e inteligente. O Rev. George W. Gale, de Princeton, Nova Jersey, seria consagrado pastor local da Igreja Presbiteriana, pouco tempo depois de eu ali haver chegado. A sua pregação era da escola ancestral, puramente Calvinista e quando firmava as pregações nas suas doutrinas, transparecia ser um hiper-calvinista convicto. Claro está que ele era considerado como ortodoxo de alta patente. Mesmo assim, nunca pude beneficiar de nada daquilo que pregava. Algumas vezes lhe havia transmitido pessoalmente, ele parecia começar naquilo que deveria ser o meio de todo seu discurso e que assumia muitas coisas peremptoriamente que para a minha mente haveriam que ser provadas. Ele nem sequer se questionava se seus ouvintes teriam ouvidos de grandes teólogos, assumindo que deveriam estar à altura de entender as doutrinas da salvação da maneira como as expunha. Terei de reconhecer abertamente que me fazia mais perplexo que esclarecido o ouvir daquilo que transmitia oralmente.

Nunca até ali havia presenciado de perto uma reunião de oração. Como havia uma muito perto dos escritórios todas as semanas, por norma atendia às mesmas e dava-me para ouvir as suas muitas orações, todas as vezes que saia do trabalho a horas de poder atendê-las. Como estudava direito elementar, notei que muitos dos autores antigos faziam referências contínuas às Escrituras, muito especialmente àquelas leis de Moisés como princípios básicos de autoridade para a lei comum. Isto provocou a minha curiosidade de tal forma que comprei uma Bíblia, a primeira que tive nas mãos. E sempre que encontrava uma qualquer referencia pelos autores de direito à Bíblia, logo buscava a passagem para a consultar relacionando-a sempre com a alusão feita. Isto logo levou a que me interessasse pela Bíblia ainda mais e meditava em tudo aquilo que lia mais do alguma vez meditara em toda a minha vida. Muito daquilo que lia, não entendia, como era de esperar. O Rev. Gale tinha por hábito passar pelos escritórios com muita frequência, com alguma ansiedade em tentar saber qual a impressão causada pelos seus muitos sermões na minha mente. Eu falava com ele de forma muito aberta e franca. Penso que apontava erros demais aos seus sermões, injustamente até. Levantei tantas objecções contra ele, quantas haviam esbarrado na minha forma de querer ver as coisas.

Nas conversas que tinha com ele e ao perguntar sobre muitas questões, deduzi que toda a sua mente estaria mistificada demais e que não se conseguia definir muito bem acerca de assuntos importantes, como também não conseguia definir muita da sua terminologia da qual usava frequentemente como forma de expressão muito formal. Que quereria ele dizer com "arrependimento"? Seria mero sentir de remorso ou seria emotividade? Seria um estado mental ou envolveria tal coisa também um estado voluntarioso de mente? Se era uma transformação mental, que tipo de mudança seria? Seria uma questão mental apenas? Que queria ele dizer com regeneração? E com fé? Seria uma convicção, uma mudança espiritual, uma persuasão de que as coisas contidas no evangelho seriam verdade? O que era a santificação? Obrigaria isso a uma mudança física da pessoa nela envolvida, ou dependia tal coisa duma interferência directa da parte de Deus em quem cria? Eu não tinha como entender nenhuma das suas definições sobre variadíssimos assuntos importantes, pois parecia que ele próprio nada entendia sobre aquilo de que falava.

Estabelecemos muitos debates de inquérito e resposta, mas tal coisa apenas servia para me estimular mais duvidas que satisfazer a minha curiosidade sobre esses assuntos no tocante àquilo que pudesse ser verdade. Mas, lendo a minha Bíblia e frequentando a dita reunião de oração, ouvindo os sermões do Rev. Gale e discutindo com ele, também com os anciãos da igreja e muitos outros ocasionalmente, tornei-me um ser muito inquieto. Uma pequena consideração desde logo me levou a perceber que não estaria minimamente preparado para o céu caso morresse. Transparecia-me que haveria algo infinitamente importante na religião e ficou desde logo ponto assente que, se a alma fosse deveras imortal, eu estaria carecido duma enorme e real mudança interior, caso tivesse que vir a ser preparado para a felicidade do céu. Mas a minha mente ainda não achara forma de se achar resolvida quanto a questões como a verdade ou a mentira do evangelho da religião cristã. A questão teria peso a mais, no entanto, para me deixar tranquilizado naquela incerteza sobre o assunto.

Estava particularmente atónito sobre aquele facto inquestionável de que as muitas orações que ouvia naquela reunião de oração careciam de respostas conclusivas. Não via nenhuma resposta às mesmas, áquem daquilo que podia ver e presenciar. O facto incontornável de maior relevo das suas orações, seria que não consideravam qualquer fé numa resposta sequer, pois não as conseguiam considerar como atendidas.

Lendo a Bíblia vi como Cristo se pronunciava sobre a oração e muito especialmente sobre respostas certas às mesmas. Ele dizia: "pedí e dar-se-vos-á e aquele que busca, acha aquele que bate abrir-se-lhe-á". Li também sobre como Deus estaria numa grande pré-disposição de os atender e de dar o Seu Espírito Santo a quem O pedisse, mais do que os pais daqui do mundo estariam na disposição de dar algo a seus próprios filhos. Ouvia-os orar continuamente para que fosse derramado o Espírito Santo e variadíssimas vezes a confessarem abertamente que nada demais se passaria, pois não recebiam tudo aquilo que pediam. Exortavam-se uns aos outros para se manterem despertos e na expectativa da Sua vinda, orando sempre para que houvesse um avivamento religioso, assegurando mutuamente que, se cada um cumprisse a sua parte, orando pelo Espírito e fossem sérios e sinceros no pedido, estariam na eminência de obterem o tal avivamento que iria converter muitos impenitentes e pecadores. Mas nas suas muitas orações e reuniões, alegavam continuamente que nenhum progresso alcançavam através daquelas orações, a favor de assegurarem o próprio progresso da religião.

Aquela inconsistência absurda de nunca receberem aquilo que tanto pediam, era um sério tropeço para mim. Não sabia o que entender daquilo. As questões que se punham na minha mente seria se aquelas muitas pessoas seriam de facto crentes e que se não sendo não tinham como prevalecer diante Deus, ou se eu estaria a entender muito mal as promessas que vinham na Bíblia vezes sem conta. Estaria a Bíblia a falar a verdade? Era algo inexplicável para mim. Por pouco tal ocorrência não me levou ao cepticismo. Parecia-me desde longe que, entre aquilo tudo que se desenrolava diante de mim e aquilo que lia da Bíblia, não havia sintonia possível.

Numa ocasião, quando frequentava a dita reunião de oração, Perguntaram-me se desejaria que orassem por mim. Respondi-lhes de imediato que não, porque, disse-lhes, não via Deus a responder qualquer das suas orações. Disse: "Por acaso sou uma pessoa necessitada de oração, porque tenho consciência em mim que sou um pecador; mas não vejo que as vossas orações possam resolver o meu problema, pois vocês não estão a ser ouvidos; se o caso se desse das vossas orações serem ouvidas, não me importaria nada que orassem por mim. É que estão há tanto tempo a orar para que desça o Espírito Santo e nada recebem! Desde que cheguei a Adams que pedem isso e não há maneira de ver qualquer resposta concreta; apenas vos vejo a lamentarem-se que não recebem". Recordo-me de haver usado uma forma de expressão na altura mais ou menos assim: "Já oraram tanto desde que frequento as vossas reuniões que já bastaria para expulsar o diabo por inteiro daqui de Adams, se houvesse qualquer essência de virtude em qualquer das vossas orações! Mas mesmo assim, vocês continuam a orar sobre a mesmíssima coisa e só vos ouço lamentarem-se sempre por nunca receberem" Eu falava com muita seriedade de expressão sem uma qualquer fragrância de irritabilidade, devendo-se provavelmente ao facto de me haver confrontado continuamente com aquela questão da religião. Este era um estado de coisas deveras novo para a minha experiência. Mas lendo a Bíblia com mais diligencia, pude verificar que as suas orações nunca seriam ouvidas porque eles nunca se haviam comprometido com as condições sob as quais Deus se comprometera a responder às orações deles. Foi como que uma revelação para mim, pois via-se claramente que não esperavam que Deus respondesse, que lhes desse aquilo por que pediam.

Isto visto, por algum tempo a minha mente se confundia com estas coisas. Seria mais na forma de questionar que chegara a estas conclusões que propriamente numa forma bem definida de resposta. De qualquer modo, isto deu-me um certo alívio ao pensar que afinal de contas nada de errado deveria de existir sobre a verdade do evangelho. E depois de haver lutado durante uns dois ou três anos com essa grande questão, a minha mente assentou no facto de que houvesse a mistificação que houvesse, na minha mente ou na do meu pastor, ou mesmo na mente da igreja de forma independente da do pastor e da minha, a Bíblia redundava na autêntica Palavra de Deus. Estando esta questão traçada e arrumada desde aí em diante, o passo seguinte seria logicamente a questão se aceitaria Cristo tal como Ele vem apresentado nas Escrituras e no Evangelho, ou iria perseguir um caminho mundanamente orientado. Neste período de tempo e a partir daqui, não mais podia deixar a questão sem resposta porque, como me vim a aperceber desde então e até ao dia de hoje, o Espírito Santo imprimiu uma urgência na minha mente de ter que resolver aquela grande questão com Ele, não mais podendo seguir assim hesitando entre dois pensamentos distintos e opostos.

 
 
 INDEX MEMÓRIAS

Copyright (c) 2002. Gospel Truth Ministries

HOME | FINNEY LIFE | FINNEY WORKS | TEXT INDEX | SUBJECT INDEX | GLOSSARY | BOOK STORE