A VERDADE DO EVANGELHO

MEMÓRIAS DE CHARLES G. FINNEY

por Charles G. Finney

CAPÍTULO III

 

PRINCÍPIO DO MINISTÉRIO

 

Na manhã da qual falei, quando recebi aquelas poderosas ondas de baptismo em amor e salvação inundando todo meu ser por dentro e por fora, havia descido para o escritório e Squire W entrou naquele preciso momento. Disse-lhe umas quantas palavras relacionadas com a salvação dele. Ele olhou para mim muito admirado, porém nada respondendo, disso me recordo perfeitamente. Baixou apenas a sua cabeça, parando no nada durante uns poucos minutos e deixou o escritório logo de seguida. Nada mais pensei sobre aquele assunto até mais tarde quando vim a saber que aquelas poucas coisas que lhe dissera lhe causaram tal impacto no seu interior que teve o efeito duma espada cortante dentro de sua alma. Nunca mais recuperaria disso até à sua própria conversão. Logo de seguida entrou O diácono B-- no escritório, dizendo-me: "Sr. Finney, sabe que o meu assunto em tribunal é hoje às dez horas da manhã? Que tem uma causa para defender hoje? Suponho que esteja inteiramente preparado para me defender em tribunal?" Eu era seu advogado no caso. Logo lhe respondi: "Sr. Diácono B-- recebi um édito do Senhor Jesus para defender a Sua causa a partir de hoje, por essa razão não posso mais atender à sua.". "Que quer dizer com isso?" Disse-lhe em poucas palavras que entrara na causa de Cristo, repetindo-lhe que teria uma causa mais importante a defender; "Por favor, arranje outra pessoa para o defender em tribunal, que eu não poderei fazê-lo mais" Baixou a sua cabeça estonteado, nada respondendo, saiu. Logo de seguida, ao passar pela janela, reparei que Diácono B-- estava parado no meio da estrada, aparentemente perdido em seus muitos pensamentos. Saiu dali, disse-me mais tarde, conseguindo reorganizar a sua causa em tribunal sem problemas de maior. Assim que saíra do tribunal, foi orar e pouco tempo depois entrou num estado de entrega a Deus muito mais profundo da sua vida. 

Logo saí do escritório para poder falar aos outros sobre o estado de suas almas. Tinha a distinta impressão, a qual nunca mais abandonou a minha mente e alma desde então, que Deus me chamava a pregar o evangelho e que mais teria de fazer senão começar logo. Sabia que o tinha de fazer. Se me perguntassem como sabia, não sei porque sabia, não mais do que podia explicar como sabia que era o Espírito Santo que havia descendido sobre mim. Tinha uma certeza clara, simples e activa, para além de qualquer provável duvida. Foi assim que sabia que o Senhor me havia comissionado a pregar o evangelho.

Da primeira vez que recebi a convicção que era essa a vontade de Deus, aquele pensamento que se alguma vez houvesse como me converter eu iria pregar o evangelho, percebi que teria de abandonar a minha profissão que muito amara até ali. No princípio fez-me hesitar, servindo-me mesmo como tropeço. Pensei que havia despendido tanto esforço naquela profissão, nos estudos, tanto tempo que, tornar-me crente, obrigar-me-ia a abandonar tudo para ir pregar o evangelho. Mas assim que coloquei a questão a Deus em pessoa, aquele pensamento que se alguma vez me chegasse a converter me entregaria à pregação do evangelho, pensei e vi que quando decidi ir estudar direito nunca havia sido uma resolução a qual houvesse levado em consideração a opinião de Deus, daí que não me sentisse no direito de impor condições de qualquer género ao meu Criador. Não mais havia dado atenção aquela questão de me tornar num ministro da Palavra até me haver ocorrido o que aqui descrevi antes, a caminho do bosque.

Mas, depois de haver sido coroado com aqueles poderosos baptismos do Espírito, toda a minha vontade se tornou cativa daquele desejo de ir pregar aos outros. Mais &endash; logo descobri que nada mais no mundo era meu desejo. Não tinha mais nenhuma réstia de vontade em persistir em direito penal e partir daquele momento nunca mais me recordo de sentir qualquer vontade de voltar ao meu anterior ofício. Não tinha qualquer ambição de obter riqueza, não tinha qualquer fome de qualquer prazer deste mundo, tudo se resumia àquela vontade de Deus dentro de mim. Nenhuma inclinação havia em sentido contrário. Toda a minha mente ficou absorvida pela grande questão de Jesus e a Sua grande salvação. O Mundo me parecia algo prestes a expirar, sem consequência sobre a minha vontade sequer. Nada, parecia-me, podia rivalizar com a salvação de almas; nenhum labor, poderia ser tão doce de pensamento, nenhum ofício mais exaltado haveria, do que aquele que se pôs diante de mim de elevar Cristo bem alto diante dum mundo em vias de se extinguir para sempre.

Sob total influencia desta impressão profunda causada em mim, saí de vez do escritório com a clara intenção de pregar a quem quer que achasse. A primeira paragem foi na loja dum sapateiro, que era um homem piedoso, um daqueles crentes que mais orava, assim eu via o homem, na igreja. Dei com ele a conversar com um dos presbíteros da igreja. Esse presbítero estava na defesa da doutrina do universalismo. O Sr. W--, o sapateiro, virando-se para mim, perguntou-me: "Sr. Finney, que pensa o senhor da teoria deste jovem?" E logo me dissera qual o seu argumento na defesa do Universalismo Cristão. A resposta imediatamente me veio à mente e coloquei-os como chama de fogo. Em segundos todos os seus argumentos desvaneceram no ar. O jovem logo se apercebeu que os seus meios de defesa se haviam ido para sempre. Levantou-se sem palavra e saiu bruscamente. Mas desde o interior da loja observei que aquele jovem presbítero, em vez de seguir pela rua, contornou a loja, passou a cerca da vila para o outro lado, andando em direcção ao bosque. Não prestei mais atenção ao assunto, até quando o jovem saiu do bosque, reflectindo na sua face uma alegria pura dum jovem convertido ao relatar-nos a sua experiência na mata. Ele havia-se entranhado na floresta e, conforme disse, entregara seu coração a Deus.

Falei com uma imensidão de gente só naquele dia e acho mesmo que o Espírito de Deus conseguiu impressionar e marcar seus espíritos para sempre. Não me consigo recordar de alguém com quem falei naquele dia, que não se haja convertido em breve trecho. Lá pela noite fui a casa dum amigo meu, onde um certo jovem trabalhava na manufacturarão de whisky. Toda a família havia ouvido da minha recente conversão. E como estavam para se sentarem para tomarem seu chá, insistiram que me assentasse com eles para o tomar também. O dono da casa e a sua esposa eram crentes professos. Mas o irmão da senhora anfitriã, que estava presente ali também, era uma alma por converter. E este jovem a quem eu visitara, era um familiar distante daquelas pessoas, seria até ali um Universalistas convicto, muito falador e conhecido pelas suas convicções profundas. Tinha um carácter muito enérgico.

Sentei-me para aquele chá e eles pediram-me para pedir a bênção, orando. Era uma coisa que nunca havia feito até ali. Não hesitei por um momento sequer e comecei logo a orar pedindo aquela bênção de Deus sobre o chá assim que nos encontrávamos todo à volta da mesa. Mal comecei a orar, o estado de coração daqueles jovens emergiu diante de mim e a minha mente ficou inteiramente absorvida por compaixão pelas almas daqueles que ali estavam e se perdiam desnecessariamente. Chorei alto e rebentei em lágrimas de tal modo que não conseguia continuar com a oração. Todos à volta daquela mesa estavam pasmados a olhar em minha direcção enquanto eu soluçava profundamente. O jovem logo saiu dali correndo para o seu quarto. Fechou-se lá e não mais foi visto até a manhã seguinte, saindo a expressar uma nova victória e esperança real em Cristo. Este homem tornou-se num muito hábil ministro do evangelho desde então.

Pelo dia fora, uma certa emotividade e excitação foi criada pela vila fora ao haverem sido postas muitas pessoas a falar sobre tudo aquilo que Deus havia feito em minha alma. Uns pensavam dum modo, outros de outro. À noite, sem qualquer marcação prévia, todos se reuniram em uníssono para o local onde por norma se davam aquelas reuniões de oração. A minha conversão inesperada havia criado uma grande perplexidade em todos naquela vila. Mais tarde vim a saber que alguns dos membros da igreja se haviam proposto em si mesmos tornarem-me alvo das suas orações, mesmo que o pastor os desencorajasse metodicamente, dizendo que não cria que algum dia me chegasse a converter pelas muitas conversas que havia encetado comigo sem serem frutuosas, nem de perto nem de longe. Ripostava-lhes com segurança que eu era muito bem esclarecido acerca da religião, mas muito endurecido mesmo e que eu havia influenciado a todos os jovens sem excepção, a quem eu liderava musicalmente por lhes ensinar música sagrada, também nunca se converteriam por essa mesma razão impar enquanto eu estivesse em Adams com eles. Sentia-se desencorajado pelo esforço que despendera comigo. Descobri também que uns quantos homens ímpios da vila se aninhavam por detrás de mim pelos meus frequentes argumentos contra o pastor e não só. Um desses homens de então, um Sr. C--, o qual tinha uma esposa santa, muito frequentemente lhe dizia assim: "se essa coisa de religião é mesmo verdade, porque razão não conseguem converter o Finney? Se algum dia o converterem, aí sim, eu vou acreditar na religião!" Também um certo advogado, um tal Sr. M--, de Adams, quando ouviu alguém falar da minha conversão, logo deu a sua opinião de que eu estaria a fabricar uma artimanha para eu ver apenas como era facil demais fazer os crentes acreditarem numa actuação qualquer.

De qualquer modo, todos foram direitos ao local das ditas reuniões de oração. Eu também me dirigi para lá de imediato. O pastor da igreja estava lá, tal como praticamente todas as pessoas da vila. Ninguém parecia com disposição para empreender a abertura da reunião. A casa estava repleta e ninguém mais cabia lá. Não esperei que alguém me convidasse para discursar e comecei desde logo a falar. Comecei por dizer que agora sabia que a religião era vinda de Deus pessoalmente. Segui desde aí ao relato daquelas experiências que eu achara que devia compartilhar ali e não mais. O Sr. C--, o tal homem que dissera que acreditaria na veracidade da religião caso eu me convertesse, estava presente, tal com o Sr. M--, o tal advogado. Aquilo que Deus me capacitou para transmitir naquele momento, pareceu-me apoderar-se das pessoas presentes de forma admirável. O Sr. C--, tal como o Sr. M--, levantaram-se e saíram abrindo caminho entre a multidão. Sr. C-- deixou para trás o seu chapéu com a pressa. O Sr. M-- dizia que eu havia enlouquecido. Dizia: "Ele está a falar com muita seriedade, muito sério mesmo, mas mostra que está louco e mentalmente doente".

Assim que acabei de falar, o Sr. Gale, o pastor da igreja, ergueu-se e fez uma confissão pública a todos os presentes. Disse que até ali se havia posto no caminho da igreja, impedindo-a de orarem por mim; que se havia oposto mesmo à igreja, desencorajando-a quando esta manifestara o desejo de orar por mim; também que quando alguém lhe contara que eu me havia convertido, que dissera prontamente que não acreditava na notícia. Confessou que não tinha fé em Deus como devia e pareceu-me muito humilde.

Eu nunca havia orado em publico. Mas logo o Sr. Gale tratou de remediar a questão, assim que terminara o seu discurso. Ele chamou-me a orar, o que fiz com grande liberdade de espírito e com largueza e abertura de coração. Aquela noite obtivemos uma reunião improvisada impar e bela. E a partir dali, não houve noite sem reunião de oração e isso durante muito tempo depois. A obra de Deus espalhava-se para todos os cantos e direcções.

Eu era líder dos jovens e logo de seguida convoquei reuniões de oração entre eles, a qual todos atendiam sem excepção, pelo menos os que conhecia. Entreguei todo o meu tempo e labor para efectivar a sua conversão e o Senhor abençoou todo e qualquer esforço despendido e de forma muito maravilhosa mesmo. Convertiam-se um depois do outro, com muita rapidez e eficácia, persistindo esse trabalho entre eles até que todos se houvessem convertido sem uma singular excepção. O trabalho espalhou-se também por todas as classes de pessoas na vila e saindo mesmo para fora da vila em todas as direcções. O meu coração transbordava de tal modo, que durante cerca de uma semana não sentia qualquer necessidade nem de dormir nem de comer. Parecia-me mais que eu tinha uma carne da qual me alimentava que o mundo desconhecia por inteiro. Todo o meu ser e mente estavam inundados pelo amor de Deus, transbordando continuamente. Permaneci neste ritmo por largos dias, até que concebi em mim que haveria de dormir e comer ou então virava louco. A partir dali, tornei-me cauteloso comigo mesmo em todo a labor, comendo regularmente e dormindo durante o tempo possível. A palavra de Deus manifestava um grande poder de alcance. Dia a dia me surpreendia, pois constatava que umas simples palavras tinham um efeito tremendo em quem as ouvia, parecendo que uma seta aguda os havia atingido irreversivelmente.   

Passado algum tempo, fui para Henderson, onde vivia meu pai, visitando-o. Ele era um homem que nunca se convertera e recordo-me que apenas o meu irmão mais novo havia professado fé na religião. O meu pai saiu ao meu encontro no portão perguntando-me como estava. Respondi: "eu estou muito bem pai, tanto de corpo como de alma. Mas pai, você já é um homem velho, os seus filhos já estão todos criados e crescidos; eu nunca ouvi uma simples oração na casa de meu próprio pai apesar de tudo". Ele baixou a cabeça, rebentou em lágrimas e respondeu: "eu sei, eu sei, Charles! Entra, vem orar comigo." Entramos e estivemos em oração. Tanto meu pai como minha mãe haviam sido fortemente tocados e pouco tempo depois foram possivelmente convertidos. Não me recordo se a minha mãe obtivera antes uma qualquer esperança secreta em Cristo, mas mesmo que tivesse tido, ninguém de toda a família chegou a saber de nada.

Permaneci ali durante dois ou três dias, conversei sobre Cristo com quanta gente quanta pude ter oportunidade de conversar. Penso que seria na segunda-feira seguinte que tinham um concerto mensal de oração na cidade. Havia um ministro baptista, uma igreja Congregacional pequena sem qualquer pastor. Toda a cidade era um antro imoral de mentalidade corrupta, em qualquer dos casos. Nesta altura a questão religiosa encontrava-se em maré baixa, muito baixa mesmo. O meu irmão mais novo frequentava este concerto de oração mensal, fornecendo-me um relato completo do que se tratava e o que se passaria em volta daquele evento. Pouca gente atendia e por essa razão as pessoas se reuniriam numa casa particular. Assim, também eu compareci nela por esta ocasião e reuniram-se na casa de alguém por lá. Alguns dos membros locais da igreja Baptista e alguns Congregacionalistas estavam presentes. O diácono da igreja congregacional era um frágil, acabado e velho homem, por nome Sr. M--. Era muito calado em sua maneira de ser. Tendo entre todos uma boa reputação de piedade. Mas falava muito pouco sobre o assunto. Ele era um típico homem de Nova Inglaterra como diácono. Ele estava presente e chamaram-no para liderar aquela reunião. Leu uma passagem das Escrituras, conforme era costume ali; cantaram um hino e o diácono ergueu-se para orar em pé atrás da sua cadeira. Todos os presentes professavam religião e ajoelharam-se pelo quarto fora.

O meu irmão fizera-me notar com antecedência que o dito diácono começava por orar baixinho, mas logo acabava por levantar a sua voz a qual tremia de emoção. Orava cada vez com mais e mais emoção, mais e mais seriedade, até que se começava a erguer nos dedos dos pés e batia com seus calcanhares fortemente no chão, o que provocaria um estrondo em toda a sala. Logo também começava a erguer a sua cadeira na medida em que levantava os calcanhares, batendo com ela também no chão. Logo de seguida tornava repetir aquela actuação mas com maior veemência e emoção ainda. Continuava assim por muito tempo e por muita emotividade até que batia com a cadeira pela última vez com tanta força que quase a quebrava em pedaços. No meio de tudo aquilo, estavam os crentes de joelhos, grunhindo e suspirando, chorando e agonizando em tal oração. O diácono permanecia naquele estado de espírito até que se achasse exausto demais para continuar. Assim que terminava de orar, relatou-me meu irmão, ninguém se levantaria de seus joelhos, antes choravam e confessavam e todos se derretiam diante de Deus. Foi assim que a obra de Deus se espalhou em todas as direcções pela cidade. Mas na altura espalhou-se toda aquela obra de Deus por todas as partes, tendo a vila de Adams como centro nevrálgico, espalhando-se por todo aquele condado e cidades circunvizinhas. 

Já falei das convicções de pecado de Squire W, o homem em cujos escritórios eu estudara direito. Também de como, quando me converti, tudo se passou no bosque onde fui orar a Deus. Pouco tempo depois da minha conversão, houve vários casos de conversões semelhantes sob circunstâncias idênticas à minha, no mesmo bosque. Lá foram conseguir a sua paz com Deus. Mas quando Squire W ouviu relatos destas mesmas conversões, uma após outra nas nossas reuniões, ele logo se endureceu acerca duma coisa que nada de significativo seria, não fosse ele haver estabelecido teimosamente que não iria orar no bosque como os outros. Ele fincou seu pé no facto de já ter um local de oração e que não iria para a mata encontrar-se com seu Criador para não ter de contar a história que tantas vezes se ouvia e repetia. A esta teimosia ele entregou-se de alma e coração. Mesmo que isto fosse uma coisa inerte em si, não houvesse ele estabelecido seu orgulho escondido sobre tal coisa, nada havia que o pudesse comprometer através desse procedimento. Por causa dessa teimosia não conseguia entrar no Reino de Deus. No meu ministério futuro, encontrei variadíssimos casos em tudo semelhantes a este, onde uma simples questão, por vezes irrelevante até em significado, fosse sitiado pelo orgulho do homem, baseando todo o seu capricho numa mera teimosia sem nexo. O próprio coração do homem comprometia a sua própria vida numa coisa sem significado aparente. Em casos deste género, sempre há que haver uma entrega e sujeição da parte de qualquer pecador directamente relacionado com o assunto irrelevante em questão, pois dali vem toda a força motriz do seu orgulho e capricho que o separa de Deus. Não é a sua origem, mas onde se encontra sitiado. Conheço casos onde pessoas passaram várias semanas em tribulação e agonia de espírito, pressionados pelo Espírito Santo a cederem desde logo, os quais nunca conseguiam entrar em perfeita paz com Deus até se haverem humilhado naquela matéria acerca da qual faziam tão grande questão e sobre a qual não queriam ceder. Squire W foi o primeiro caso do género que me recordo haver notado.

Depois de se haver convertido, revelou-nos que essa questão continuadamente lhe vinha à cabeça quando se punha a orar, não lhe dando descanso interior. Também que lhe fora revelado prontamente que se tratava duma questão orgulhosa e sem cabimento da parte dele, pois a sua posição impedia que o reino dos Céus entrasse nele e ele no Reino. Mas mesmo depois dessas revelações, não havia querido submeter-se  nem admitir a si mesmo sequer que era de facto orgulhoso. Tentou de todas as maneiras convencer tanto a si mesmo como ao próprio Deus que não era. Uma noite, orou a noite toda em seu escritório pedindo que Deus tivesse misericórdia dele. Mas pela manhã estaria mais indisposto e mais atribulado de espírito que na noite anterior. Enfureceu-se contra Deus por não haver aceite a sua oração e sentiu-se tentado com o suicídio. Foi pressionado a usar o seu canivete de bolso contra si mesmo, de tal modo que teve de atirar tal objecto para bem longe de si de forma a que não tivesse como encontrá-lo de novo não fosse aquela tentação prevalecer. Relatou-nos ainda que, depois duma reunião certa noite, foi tão pressionado com aquela convicção de todo o seu orgulho, com o facto da tal monstruosidade não permitir ir para o bosque orar, que propôs em seu coração que iria convencer-se a ele e a Deus que não era orgulhoso que o levava a manifestar tal procedimento. A caminho ajoelhou-se num charco de lama para demonstrar que não o era de facto e que não seria orgulho que o mantinha fora do bosque. Aquela luta entre ele e Deus durou semanas.

Uma certa tarde, estava no escritório juntamente com dois presbíteros da igreja. Aquele jovem do qual falei, o que estava na loja do sapateiro, entrou apressadamente exclamando aos gritos que Squire W se havia convertido. Disse-nos: "Ele converteu-se! Eu fui orar no bosque e ouvi alguém gritar muito alto na planície. Subi ao topo do monte, de onde podia ver o que se passava lá em baixo e viu-o a marchar para frente e para trás cantando hinos bem alto, o mais alto que podia. De vez em quando parava para bater as mãos uma na outra e gritava cantando: "Regozijar-me-ei no Deus da minha salvação!" Depois punha-se a marchar de novo, parava, batia as suas mãos e cantava da mesma maneira!". Estando este jovem a relatar-nos tudo aquilo, nisto vimos Squire W a voltar para a vila, do bosque vindo no monte. Ao entrar na vila vimos encontrar-se com Papai T, como carinhosamente o chamávamos, um idoso da igreja metodista. Foi direito a ele, erguendo-o no ar com toda a força dos seus braços. Depois duma breve conversa à qual não tivemos acesso, entrou no escritório onde estávamos. Transpirava, pois era um homem pesado. Gritou para nós: "Eu consegui, eu consegui!" Bateu as suas mãos, pôs-se de joelhos diante de nós e orou a agradecer a Deus. Logo de seguida relatou-nos com mais pormenores tudo o que se havia passado consigo e a razão porque não havia obtido a sua paz com Deus até aquele dia. Disse-nos que assim que cedeu na questão de ir orar a Deus no bosque, a sua mente experimentou desde logo um descanso sem igual. Mas quando se ajoelhou lá no bosque para orar, o Espírito Santo envolveu-o de tal forma em Seu amor baptismal, que se encheu de gozo e alegria, havendo obtido o resultado de tudo aquilo que aqui relatei. Assim, Squire W passou a dar a cara pela causa de Deus desde então.

Lá mais para a primavera, os membros mais velhos daquela congregação começaram a diminuir em zelo santo. Ganhei o hábito de me levantar bem cedo de manhã para orar a sós no local das reuniões. Por fim provoquei alguns irmãos da igreja a juntarem-se a mim nessa mesma tarefa, reunindo-nos pela madrugada numa reunião de oração. Fazia-mos assim muito cedo, muito antes de se poder ver para ler. Também consegui que o meu pastor assistisse às mesmas reuniões. Mas pouco tempo depois as pessoas começaram a não comparecer, o que me levaria a ir ter de acordá-los em suas casas. Fazia-o muitas vezes, dando voltas e mais voltas, chamando e acordando aqueles que me pareciam ir orar também. Assim obtínhamos grande virtude e satisfação em momentos gloriosos de oração. Mas reparei que todos eles, mesmo assim, atendiam a esta reunião com cada vez menos vontade e com mais relutância. Esse desfecho de coisas foi um grande motivo de tribulação e provação para mim.

Numa certa manhã, fui de novo fazer aquela grande volta de despertar as pessoas para comparecerem na dita reunião, mas quando cheguei à sala das reuniões pouca gente se encontrava lá. O Sr. Gale estava à porta da igreja e quando me aproximei, de repente a glória de Deus iluminou tudo à minha volta, sobre e à volta de mim de forma linda e maravilhosa. O dia mal começara a clarear, mas aquela luz penetrou em toda a minha alma e quase me fez prostrar de joelhos no chão. Era uma coisa inefável, vindo do nada, a qual eu não esperava. Podia ver como todo o resto da natureza dava sempre a glória devida a Deus, com excepção do homem. Aquela luz me era tão forte como a própria luz do sol brilhando na sua máxima intensidade em todas as possíveis direcções. Era uma luz intensa de mais para ser suportada pela vista, que me levou a chorar e rebentar em lágrimas porque o homem não queria glorificar a Deus, sendo ele mesmo a coroa da Sua criação. Não havia lido nem ouvido nada sobre aquilo que aconteceu ao apóstolo Paulo a caminho de Damasco. Foi uma luz a qual eu não poderia suportar por muito mais tempo. Ali mesmo explodi num choro sem igual. O Sr. Gale alarmou-se e gritou: "que se passa irmão Finney?" Eu nada lhe conseguia dizer. Descobri então que ele estaria completamente alheio àquela luz que me colocara naquele estado de espírito, pois não via porque razão estaria eu naquelas condições de pranto. Por essa razão pouco falei, pouco pude falar. Creio que apenas lhe respondi que vira a glória de Deus e que não conseguia aguentar a maneira com as pessoas tratavam Deus daquela forma tão miserável. Eu não cria que aquela visão pudesse vir a ser descrita em palavras humanas. Eu chorei alto e clamei, como que tentando passar o que se passava em mim e por mim desse jeito. Assim que clamei, essa visão deixou um alívio para trás ao deixar-me. Minha mente ficou absorvida num mar de calma e paz.

Como crente jovem, habitualmente obtinha grandes momentos de adoração e oração quando comungava com Deus em pessoa, momentos que nem me vou dar ao trabalho de tentar descrever em palavras. Tal comunhão de quando em vez terminavam com uma clara alusão e impressão de que teria de ir falar com uma ou outra pessoa, que lhes teria de dizer uma ou outra coisa concreta. Eu não entendia nada daquilo nessa altura e por essa razão não prestava muita atenção a tais ocorrências. Mas, tentava testemunhar a meus irmãos de como desfrutava duma comunhão sem igual com Deus, ou apenas sobre aqueles benefícios que me haviam trazido pessoalmente. Mas, logo soube que de nada valia tentar explicar algo daquilo que em mim se passava, pois não entendiam nada do que lhes tentava transmitir. Muitos deles manifestavam mesmo uma certa incredulidade, facto que me surpreendia. Por isso resolvi falar muito pouco sobre o assunto.

Passava grande parte do meu tempo em profunda oração. Literalmente, passava o meu tempo orando sem cessar. Passava tempos intermináveis em oração e jejum, tudo em privado. Buscava estar a sós com Deus, longe dos olhos das pessoas, como na mata mas por motivos distintos daqueles que me levaram a ir parar ao bosque antes. Nesses dias de produtivo jejum e oração, buscava estar a sós com Deus. Ia para o bosque ou entrava na sala da igreja e permanecia lá durante longos períodos buscando a aquela alegria de estar a sós com Ele, com quem me entendia. Por vezes entrava num percurso de jejum e oração muito errado, auto examinando-me neles de maneira muito maléfica, em conformidade com a ideias do meu pastor. Olhava para dentro do meu coração naquele sentido de auto-examinação sentimental, sobre tudo o que se passava no meu mundo sentimental. Sempre que isso se dava comigo, descobria que não alcançava nenhum progresso em minha vida privada. Olhava para dentro de mim mesmo, examinando os sentimentos dos meus motivos, o meu estado de espírito. Logo descobri porque razão aquele estado de coisas me barravam qualquer progresso. Virando o alcance da minha vista para fora do campo de visão do Senhor Jesus, entrando no escuro dos meus sentimentos, no meu mundo, olhando directamente para aquilo que sentia, é claro que os mesmos sentimentos sumiam envergonhados, isto é, morriam. Mas, jejuando e prestando a minha atenção total àquilo a que o Espírito Santo de forma real me transmitia, não dando atenção a fábulas engenhosas, universalmente, achei ser de grande benefício tal procedimento genuíno. Entregava-me a ser guiado por Ele saindo daquele fosso de estar a olhar para dentro daquilo que sentia. Descobri desde logo que nunca poderia sobreviver nem viver sem presenciar a real presença de Deus em mim. Sobrevindo-me uma qualquer nuvem negra que me obscurecesse a Vida em abundância, logo me sentia perdido, não descansava, não conseguia estudar, não conseguia fazer nada nem tão pouco tirar benefícios mínimos de qualquer situação favorável e desfavorável, enquanto não restabelecesse o canal de comunhão integral com o Espírito de Deus. De facto, nada podia estar entre mim e Deus. Como já dissera, eu amava muito a profissão que exercia. Mas, desde aquele dia que me converti, tudo na direcção desse ofício me parecia escuro e sem saída. Nem de prazer usufruía ao exercê-la mais por um momento. Tive inúmeros convites para defender causas em tribunal, mas recusava-os desde logo. Não me atrevia entregar à forma de se discutir em tribunal, à sua emotividade que podia levar à ira, controvérsia, pois tais coisas me pareciam horríveis e com falta de ética moral.

Por essa altura da minha mocidade Cristã, o Senhor me ensinou pessoalmente muita coisa sobre o espírito de oração. Não muito tempo depois de me haver convertido, a senhora que me alugava o quarto onde vivia, adoeceu seriamente. Ela não era crente, mas seu marido professava religião. Ele entrou uma certa noite nos escritórios de Squire W, pois era seu irmão, dizendo: "a minha esposa não irá sobreviver a esta noite que se aproxima". Isso foi como uma autêntica seta em meu peito. O sentido dum certo género de peso caiu em cima de mim, algo que eu não entendia muito bem ainda, mas que veio com um desejo genuíno de orar e prevalecer em favor da mulher. O peso era tão grande que saí do escritório quase de imediato, indo para a casa de oração para orar pela senhora. Ali lutei de joelhos com aquele peso enorme, mas nada conseguia falar diante de Deus. Apenas tinha como grunhir e gemer inexplicavelmente, com gemidos em alta voz e profundos. Manti-me durante muito tempo naquela igreja em oração, sem que houvesse obtido qualquer alívio para o peso que carregava sobre mim pesadamente. Voltei para os escritórios, mas não podia sentar-me quieto, andava dum lado para o outro grunhindo em voz alta, agonizando. Voltei de novo para a igreja com o mesmo peso e a mesma luta. Durante muito tempo tentei arranjar palavras para expor meu caso diante do Senhor, mas não achava maneira de Lhe expor o meu caso. Apenas chorava e gemia desesperadamente, sem possível explicação para o desejo profundo e pesado que em cima de meus ombros pesavam como responsabilidade em agonia. De volta aos escritórios uma vez mais, continuava sem descanso ainda. Foi na igreja de novo que o Senhor me fortificou para que prevalecesse em oração. Consegui que todo aquele peso rebolasse para cima d'Ele. Logo consegui aquela segurança que poucos conseguem saber do que se trata, segurança e certeza essa que a senhora não morreria e que também não morreria em seus pecados. Voltei para os escritórios com minha mente em perfeita harmonia celestial e logo fui dormir. Pela manhã perguntei ao marido como estava sua esposa. Ele sorria largamente. "Ela está viva e muito melhor esta manhã". Respondi-lhe: "meu irmão W--, ela não morrerá desta doença. Ela não morrerá em seus pecados também". Não sei o que me fez dizer tal coisa com tanta certeza, mas era como se tal assunto estivesse bem claro para mim quanto ao seu desfecho final. Ela de facto recuperou a sua saúde, para pouco tempo depois se converter e obter uma esperança em Cristo. De início não entendia muito bem que tipo de exercício de mente e espírito era aquele, pelo qual passei. Mas pouco tempo depois, ao relatar a questão a um irmão em Cristo, ele disse-me "mas, claro, isso são as dores de parto"; uns minutos mais de conversação e uns apontamentos sobre uns trechos das Escrituras sobre aquele assunto deu-me para logo me aperceber com exactidão do que se tratava todo aquele peso e consequente alívio no prevalecer de verdade.

Uma outra experiência pouco tempo depois disto, ilustra esta mesma verdade. Eu falei aos crentes sobre uma certa moça que pertencia ao grupo daquelas pessoas que eram conhecidas minhas, mas que permanecia sem se converter. Isto atraiu muito a atenção de muitos crentes devido ao facto de esta mesma moça haver estado muito bem informada sobre o assunto da sua salvação. Ela era uma moça muito viçosa e bela, bem informada acerca da religião, mas presa aos seus pecados. Um dos anciãos da igreja e eu concordamos em orar de manhã, tarde e noite pela conversão desta moça até que se houvesse ou convertido, ou morrido, ou então até que nenhum de nós pudesse continuar com o nosso compromisso. Eu estava muito envolvido com Deus a favor dela. Orava por ela com mais e mais intensidade. Mas logo descobri que aquele ancião que fizera aquele pacto comigo, não persistia no acordo, estando mesmo a perder o espírito de oração por ela. Isto não me desencorajou de modo algum. Persisti heroicamente em crescente agonia. Também fiz uso de toda e qualquer oportunidade de lhe falar minuciosamente e de forma clara sobre a sua salvação. Depois de algum tempo neste estado de coisas, um fim de tarde busquei conversar com ela. Assim que me aproximei da porta, ouvi um guincho agudo duma voz feminina, uma confusão em sua casa e um remexer estranho de coisas. Esperei até que tudo se houvesse recomposto e logo de seguida a dona da casa veio abrir-me a porta, tendo em suas mãos um livro rasgado em duas partes. Ela estava muito pálida e agitada, dizendo-me: "Sr. Finney, olhe o que a minha irmã anda a ler: um livro Universalista! Acha que ela se tornou Universalista?" O dito livro em causa defendia um credo universalista. A sua irmã detectara-a lendo aquele livro escondidamente e tentou retirar-lho à força. Isso explicava toda aquela azáfama quando cheguei à sua porta. Recebi essa triste notícia à porta de sua casa e assim declinei o subsequente convite para entrar. Outra seta penetrou em meu coração daquela mesma forma que se deu com a senhora doente, a que estava para morrer e que sobreviveu, salvando-se até. Tudo aquilo sobrecarregou-me de agonia. Assim que ia andando em direcção ao meu quarto, já distante da sua casa, eu quase cambaleei pela agonia em espírito. Eu lutei e gemia imenso de dor profunda pela sua perdição. Não conseguia colocar a minha questão diante de Deus em palavras e apenas chorava pesadamente diante d'Ele, apresentando-Lhe o meu pedido através de lágrimas e gemidos inexprimíveis. O pensamento de que aquela moça em vez de se haver convertido se havia tornado uma Universalista, chocou-me de tal modo, que não via maneira de prevalecer naquela fé que ela se pudesse vir a salvar, ardendo para que pudesse ter forma de colocar o meu pedido diante de Deus. Havia uma imensidão de trevas pairando sobre toda aquela questão para mim incompreensível, como se uma densa nuvem escura houvesse entrado entre mim e Deus em relação à salvação da moça. Mas o Espírito de Deus premiu aquela grande questão dentro de mim, através de gemidos inexprimíveis. Contudo, fui obrigado a ir-me deitar sem haver obtido qualquer alívio sobre aquele assunto pesado em meu espírito. Porém, assim que amanheceu, despertei. A primeira coisa a ocorrer-me foi interceder de novo pela jovem diante de Deus. Saindo da cama logo escorreguei para cima dos meus joelhos e assim que pude orar todas aquelas trevas se dissiparam de vez e todo aquele imbróglio se desfez em minha compreensão das coisas. Pedia a Deus por ela e ouvia Deus dizer-me: "está bem, está bem!" Houvesse Ele falado por uma voz audível, não seria mais perceptível que aquela maneira de me dizer que havia ouvido a minha súplica. Logo me senti aliviado e com um pedido concedido na mão. Toda a minha mente se inundou duma paz e alegria impar. Sentia com toda a certeza que a sua salvação estaria inquestionavelmente assegurada. Enganei-me apenas no tempo de execução de tal salvação, algo que nem sequer fora colocado ou imprimido em minha alma durante aquele período em oração, mas que mesmo assim me enganara a seu respeito. Eu esperava desde logo uma conversão imediata, mas nada demais se passou. Ela permaneceu na sua dureza por vários meses mais. Mais adiante falarei da sua conversão. Eu senti-me desapontado com aquele desfecho das coisas, por não se haver convertido logo de imediato. Isso fez-me duvidar se de facto havia eu prevalecido diante de Deus sobre aquele assunto a seu favor.

Pouco tempo depois de me haver convertido, o homem em cuja casa me hospedava, que era um magistrado e um homem de grande proeminência no local, foi profundamente convicto do seu pecado. Ele havia sido eleito membro da legislatura do estado. Eu orava com ele variadíssimas vezes instigando-o a entregar todo seu coração a Deus. Mas de dia para dia ele deferia submissão e reverencia a Deus, não obtendo a esperança de salvação real. Insistia e persistia com ele cada vez mais. Numa bela tarde, alguns amigos e conhecidos seus apareceram por lá, para o entrevistarem sobre algo. Na noite do mesmo dia, tentei de novo trazer o seu caso diante de Deus em oração, pois a urgência da sua conversão havia-se tornado indescritível em mim. Naquela oração aproximei-me mesmo muito de Deus em pessoa. Nunca me recordo de alguma vez de até ali haver estado em tal comunhão e intimidade com o Senhor Jesus como daquela vez. A sua presença inundou-me de tal forma que as lágrimas de alegria sem fim, amor e gratidão por aquela presença real, me rolaram pelo rosto. Foi nesse estado de espírito que tentei reclamar aquela alma da sua perdição. Mas assim que me pusera a fazer aquele pedido, foi como que se a minha boca fosse abruptamente fechada. Era-me impossível orar por ele. Deus parecia-me querer dizer: "não, não te ouvirei". Uma angústia terrível apoderou-se de mim profundamente. Pensei antes de mais nada que se trataria duma tentação. Mas senti como que se a porta se fechasse violentamente na minha cara. Parecia-me ouvir Deus falar assim: "não falas mais nesse caso diante de mim!" Isso magoou-me imenso pela impressão que provocou em minha mente e alma. Não sabia o que pensar de tudo aquilo. Na manhã seguinte, vi aquele senhor uma vez mais. Descarreguei perante ele a urgência da sua submissão incondicional a Deus, ao que me respondeu da seguinte maneira: "Sr. Finney, não quero mais falar sobre esse assunto até que haja voltado da minha legislatura. Estou comprometido com meus amigos políticos para encetarmos certas medidas políticas, que de momento são incompatíveis com eu ser Cristão. Comprometi-me a não abordar mais essa questão até que haja voltado de Albany". Foi a partir daquele momento triste que entendi tudo aquilo que se passara comigo na noite anterior. Não tinha mais qualquer indício de espírito de oração por ele. Assim que me falou logo entendi tudo. Tive ainda oportunidade de ver que toda a sua convicção de qualquer pecado o havia abandonado e que o Espírito Santo deixara de lutar dentro dele através das suas convicções, havendo-o abandonado. A partir dali, tornou-se cada dia mais endurecido e despreocupado com o seu estado de espírito. Assim ingressou naquela legislatura. Ao voltar na primavera seguinte, pareceu-me mais um Universalista enlouquecido que outra coisa. Digo enlouquecido apenas porque, em vez de haver formado as suas opiniões a partir de pressupostos genuínos e verdadeiros nas suas doutrinas, disse-me: "Cheguei a esta conclusão Universalista não porque a tenha obtido através da Bíblia, mas muito principalmente porque tudo isso se opõe a uma mente carnal. É uma doutrina tão rejeitada por tanta gente, que apenas prova que nada serve à mente carnal!" Isto grandemente me aterrorizou! Tudo o que consegui retirar dele foi este absurdo imensurávelmente e cruel. Permaneceu em seus pecados, por fim entrou num estado de decadência e morreu mais tarde, conforme me relataram, um homem defraudado e ainda na plenitude da sua fé universalista!

 
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