A VERDADE DO EVANGELHO

MEMÓRIAS DE CHARLES G. FINNEY

por Charles G. Finney

CAPÍTULO XI.

 
AVIVAMENTO EM KALB

Depois de Gouverneur fui para De Kalb, outra vila um pouco mais para norte a cerca de dezasseis milhas dali, creio. Ali havia uma igreja Presbiteriana, esta com pastor, mas era muito pequena e o seu ministro parecia não ter um pulso suficiente sobre suas ovelhas. Mesmo assim, creio que era um homem de certa forma piedoso. Comecei as reuniões em De Kalb, em lugares distintos da vila. Era uma pequena vila e as pessoas encontravam-se dispersas e longe umas das outras. Esta terra era nova e as estradas também e ruins de se andar nelas. Mas um pequeno avivamento irrompeu logo e propagou-se com grande poder, isto se levarmos em linha de conta que era lugar onde as pessoas se encontravam afastadas umas das outras.

Uns anos antes, houve por ali um avivamento sob os labores dos metodistas. Foi seguido duma grande dose de entusiasmo e alvoroço e muitos casos ocorreram onde as pessoas, usando palavras metodistas "caíram sob o poder de Deus". Isto os Presbiterianos resistiam veementemente e teve por consequência um mal estar dentro de toda a comunidade entre Metodistas e Presbiterianos. Os Metodistas acusavam os Presbiterianos de resistirem ao avivamento por recusarem aceitar estes casos de pretensa queda sob poder do Espírito. Tanto quanto tive oportunidade de apurar, existia uma certa veracidade nestas ocorrências.

Não havia estado a pregar durante muito tempo quando, numa noite, mesmo no final dum certo sermão, observei que um certo homem caia do seu banco perto da porta de entrada. As pessoas aglomeraram-se à volta dele para cuidarem de seu estado. Pelo que tive oportunidade de verificar, apercebi-me que era um dos ditos casos onde as pessoas desfalecem pelo manifesto realce duma manifestação visível de Deus. Supondo tratar-se dum Metodista, temi que tal ocorrência pudesse criar um estado de divisionismos entre a população do género daquele que já ali prevalecia desde há muito. Mas depois de inquirir melhor, pude comprovar que se tratava dum dos principais homens do clero Presbiteriano. E foi de realçar neste avivamento que ocorreram vários destes casos entre Presbiterianos apenas e nenhum entre Metodistas. Isto levou a tais confissões entre pessoas de diferentes denominações que asseguraram desde logo uma certa cordialidade entre membros de diferentes padrões e conceitos religiosos. Um sentimento agradável imperou desde logo entre eles.

Mas enquanto laborava em De Kalb, tive oportunidade de ficar a conhecer um certo Sr. F-, de Ogdensburgh. Ele ouviu rumores sobre este avivamento e veio de Ogdensburgh passando alguns dias comigo para ver de perto esse avivamento. Ele era um homem abastado e benevolente veio desde cerca de dezasseis milhas de distância para ouvir a palavra de Deus. Ofereceu-se para me pagar um salário como missionário para pregar o evangelho por toda aquela região. Eu declinei logo, pois admiti diante dele que não me podia comprometer a limitar os meus labores a uma região específica e humanamente delineada.

Este Sr. F- passou uma série de dias comigo, visitando de casa em casa e atendendo às reuniões. Ele recebera sua educação em Filadélfia, numa escola Presbiteriana Antiga e era ele próprio um presbítero na igreja de Ogdensburgh. Ao partir dali, deixou atrás de si uma carta contendo nela três notas de dez dólares. Uns dias mais tarde voltou de novo, passando mais dois ou três dias em minha presença. Atendia nossas reuniões e ficou muito interessado em nossa obra. Quando partiu deixou nova carta com o mesmo conteúdo de três notas de dez dólares. Assim, me achei com sessenta dólares, o que me proporcionou a excelente oportunidade de comprar uma carruagem, pois até ali, embora possuísse um cavalo, eu e minha esposa tínhamos de nos deslocar a pé a grandes distâncias entre reuniões.

O avivamento cilindrou o mal e apoderou-se fortemente de toda a congregação local. Um certo presbítero daquela igreja, de nome B-, foi visivelmente quebrantado e quebrado, tornando-se desde logo num novo homem e a impressão do avivamento se aprofundava na opinião geral de dia para dia.

Num Sábado, um pouco antes de anoitecer, um certo alfaiate alemão, de Ogdensburgh, apareceu por ali e informou-me que havia sido mandatado por Squire F- para me tirar as medidas para fazer conjunto de roupas para mim. Eu começara a ter necessidade de roupas e por uma vez, não muito tempo antes, havia me dirigido ao Senhor Jesus sobre o assunto, que minhas roupas já se encontravam bastante degradas. Mas não me havia apercebido que o Sr. F- houvesse notado isso e foi por essa razão que enviara ali aquele homem. Este alfaiate era Católico. Perguntei-lhe se não poderia permanecer por ali até Domingo, pois poderia assim assistir ao culto e tirar as medidas apenas na segunda pela manhã. Mas disse-me prontamente que não, que tinha de se ir embora no mesmo dia. Eu disse-lhe então: "é muito tarde para o senhor se ir hoje; e se eu permitir que me tire as medidas hoje, o senhor por certo se irá daqui amanhã". Ele admitiu que sim, que seria esse o caso. Então respondi-lhe que não me iria medir de jeito nenhum. "Caso o senhor não tenha como permanecer aqui até segunda de manhã, não permitirei de jeito algum que me tire essas medidas!". Foi assim que ele ali permaneceu então até segunda.

Nessa mesma tarde, outros avivamentos irromperam em Ogdensburgh; e entre estes havia um certo homem, o Presbítero S-, o qual era um membro da mesma igreja da qual era o Sr. F- também. O filho do Sr. S-, que era um homem que ainda não se havia convertido, veio com ele.

O Presbítero S- atendeu à reunião pela manhã e foi convidado no intervalo pelo Presbítero B-, homem cheio do Espírito Santo, a deslocar-se a sua casa tomar algo refrescante. A caminho de casa pregou para este Presbítero que era muito frio e insensível a Deus. O Presbítero S- ficou muito compenetrado com as suas palavras.

Assim que chegaram a casa, a mesa havia sido posta e foram prontamente convidados a sentarem-se e tomarem algo. Ao se reunirem de volta da mesa, o Presbítero S- perguntou de Presbítero B- "como recebeu o senhor esta bênção do Espírito Santo?" Ao que respondeu, "Parei de mentir a Deus. Toda a minha vida era pretensiosa e cheia de calúnias para com Deus, pedindo-lhe sempre coisas que, na verdade, eu nunca estaria na disposição de nelas permanecer por muito tempo. Eu orava como outras pessoas também o faziam, notando a minha evidente falta de sinceridade em tudo aquilo que pedia. No fundo mentia a Deus. Mas assim que determinei para comigo mesmo nunca mais dizer ou pedir algo de Deus que eu não tivesse mesmo intenção e desjo real por ela dentro de mi mesmo; Deus me atendeu prontamente. O Espírito Santo desceu sobre mim e fui cheio d'Ele ali mesmo".

Naquele dado momento, o Sr. S- afastou sua cadeira para trás e colocou-se de joelhos orando e confessando como sempre havia mentido a Deus também e como havia brincado aos hipócritas em todas as suas muitas orações, tal como em todo o resto de sua vida. O Espírito Santo descendeu sobre ele de imediato e encheu sua alma de tal forma que não se continha na sua alegria efusiva e calma.

Pela tarde reunimo-nos para adoração e eu estava à frente do púlpito lendo um hino. Ouvi alguém falando muito alto, aproximando-se da porta, estando tanto esta como as janelas abertas. Entraram dois homens de imediato. Um deles era o Presbítero B-, o qual conhecia pessoalmente. O outro homem era-me desconhecido. Mal entrou, colocou seus olhos em cheio sobre mim, aproximou-se de imediato da mesa onde me encontrava, levantou-me no ar, dizendo bem alto: "Que Deus o abençoe muito! Que Deus o abençoe mesmo!" De seguida, começou por relatar tanto a mim como à congregação por inteiro tudo quanto o Senhor Jesus havia feito por sua alma também.

Seu semblante brilhava como a de um anjo e todo seu aspecto se transfigurou. Todos quantos o conheciam dali, ficaram surpreendidos com a mudança operada naquele homem. Seu filho nada sabia do tudo quanto se havia passado com seu pai, mas assim que o viu e ouviu, levantou-se saindo prontamente da igreja. Seu pai gritou: "Não saias desta sala, meu filho, pois quero te confessar que nunca te amei de verdade afinal". Continuou falando e todo o poder que emanava através de suas palavras eram de facto algo notório de se ver. Toda a gente se derreteu pelos quatro cantos daquela sala, quase que imediatamente.

Logo de seguida o alfaiate Católico levantou-se e confessou: "Tenho de dizer tudo o que o senhor Jesus fez por minha própria alma também. Eu cresci como Católico e nunca me atrevi a ler a Bíblia. Sempre me havia sido dito que, se a lesse, o diabo me carregaria vivo. Muitas vezes quando me atrevia a olhar para ela, parecia mesmo que ouvia o diabo falando por cima do meu ombro sussurrando que me levaria dali. Mas, agora vejo que era tudo um simples engano ilusionista". E prosseguiu falando sobre sua experiência, a qual ocorrera ali mesmo onde se encontrava sentado. Deus lhe havia explanado todo o plano para sua própria salvação ali mesmo. Ficou patente diante de todos ali presentes que este homem havia sido de facto convertido.

Esta cena causou um grande impacto em toda a congregação. Eu não podia nem sequer pregar. Todo o decorrer daquela reunião foi inteiramente da autoria do Espírito Santo, pois o Senhor liderou-a toda. Sentei quieto no meu canto observando a salvação operada pelo Próprio em cada um ali presente. Em toda essa tarde, múltiplas conversões se deram umas atrás das outras por toda a congregação. Um se levantava após o outro, relatando suas experiências reais. Conforme se iam erguendo e relatando todas obras operadas em si, em suas almas, de verdade, a impressão causada em cada um subia de tom. Tão espontâneo e tão real foi aquele movimento entre toda aquela gente, pecadores convencendo pecadores dos próprios pecados, como nunca vira até então.

No dia seguinte, este Presbítero S- voltou então para Ogdensburgh. Mas, como pude ser informado, pelo caminho visitou muita gente, falando e orando por vezes com famílias inteiras. E foi assim que este avivamento se estendeu até Ogdensburgh também.

No início de Outubro, o Sínodo da igreja ao qual eu pertencia, reuniu-se em Utica. Levei comigo minha esposa e visitamos sua família, a qual vivia muito perto dali.

O Sr. Gale, meu professor de teologia, saiu de Adams não muito tempo depois de eu haver saído de lá também. Ele foi para uma fazenda a leste de Oneida County, onde se resumiu a tentar recuperar seu estado de saúde. Ali estava envolvido no ensino a alguns jovens, os quais tinham como propósito irem pregar o evangelho. Passei alguns dias em Utica nas reuniões do Sínodo da igreja e propus-me voltar ao meu local de labor, em St. Lawrence County.

Não chegamos a andar mais do que umas curtas milhas e encontramos o Sr. Gale em pessoa, em sua carruagem. Ele saltou de seu assento clamando: "Que Deus o abençoe, irmão Finney! Eu ia a caminho do sínodo para ir procurá-lo! Você tem de vir comigo para minha casa. Não me poderá recusar isto. Eu não acredito que alguma vez tenha sido um homem convertido de facto. Escrevi no outro dia uma carta para Adams, tentando saber como o poderia achar, pois queria abrir minha mente e coração consigo". Ele importunou-me de tal forma, que desde logo só podia consentir em ir com ele. Deslocamo-nos de imediato para Western.

Reflectindo agora em tudo quanto disse sobre os avivamentos em Jefferson and St. Lawrence, acho que não dei o devido ênfase na total operação e agencia do próprio Espírito Santo, não tanto quanto devia, em todo caso. Desejo ser bem entendido quanto a esse facto, em todos os relatos que possa dar sobre estes avivamentos, os quais presenciei de perto e de longe, que sempre tive em mente muito bem impressionado e sempre presente mesmo, quanto a essa verdade imutável, que todo este trabalho foi de total autoria do Espírito Santo de Deus sempre presente. Sempre fui diligente em proclamá-lo e afirmá-lo distintamente, que tanto a eficácia, como os meios recebidos para o efeito, nunca se tornariam possíveis caso Deus não fosse interveniente directo e activo em tudo quanto ali se passou.

Sempre disse e aludi ao facto, vezes sem conta mesmo, que o próprio espírito de oração que inundou esses avivamentos foi peculiar e de inteira autoria do Espírito Santo também. Era comum e frequente achar crentes jovens inteiramente exercitados em oração invulgar. Em certos casos chegavam mesmo a perder suas forças em intercessão continuada. Permaneciam em vigílias noites inteiras, tanto assim era que se tornavam exaustos no interceder por almas perdidas em pecado à sua volta. Havia sempre grande pressão e sentido de urgência a partir do próprio Espírito Santo quanto a isso mesmo. Pareciam carregar sobre seus próprios ombros todo o peso de almas imortais em vias de perecerem. Manifestavam e revelavam a mais solene carga sobre si mesmos, a mais vigilante oração, vigiando sempre e continuadamente para que ninguém mais perecesse à sua volta. Era comum e muito frequente mesmo encontrar crentes orando nas ruas, onde quer que se encontravam, nunca se importunando quanto ao local onde paravam para orar, os quais em vez de se interligarem em conversações, caíam de preferência sobre seus joelhos onde se achassem e expandiam todo peso que lhes fustigava a alma, muito solenemente.

Não apenas havia reuniões de oração espontâneas por todo lado, compactamente repletas de gente em espírito de agonia pelos que se perdiam, mas havia uma enorme dosagem de espírito de oração a nível individual também. Os crentes quando juntos oravam bastante mesmo, mas muitos destes passavam grande parte de seu tempo em solene oração privada também, em sua grande maioria mesmo. Era frequente verificar que se agarravam com todo afinco àquela promessa que, onde dois ou três se reunissem em Seu Nome, pedindo, O Pai nos Céus os ouviria por certo. Seria sempre assim que tornariam pessoas atrás de pessoas seus objectos e objectivos distintos em todas as suas orações. Ninguém tinha qualquer dúvida sobre o facto de que era Deus quem respondia e atendia tão solenemente em conformidade com suas inumeráveis e memoráveis orações, as quais despendiam todas as suas forças em real intercessão, não apenas diariamente, mas de hora a hora mesmo.

Caso algo se insurgisse que ameaçasse ser obstáculo contra toda a obra de Deus, qualquer raiz de amargura, qualquer tendência de fanatismo, qualquer desordem ou tentativa de desordenamento real, qualquer profilaxia, todos os crentes tocavam o alarme em uníssono e clamavam aos céus espontaneamente, para que fosse Deus a comandar e a direccionar devida e pessoalmente todas as coisas a prosseguir em perfeita ordem e progresso. E era deveras surpreendente ver tanto a que extensão real e com que meios, Deus se manifestava em atender suas muitas orações. Ele saia atendendo virtualmente.

No tocante a minha experiência pessoal, eu diria mesmo que enquanto não estivesse pessoalmente subjugado neste espírito de oração pessoalmente, nada tinha como alcançar mesmo. Caso acontecesse que por um dia ou durante uma hora que fosse, eu chegasse a perder esse espírito de intercessão contínuo, via em mim mesmo uma manifesta falta, tanto de poder como de sabedoria e mecanismos de pregação que tivessem como levar pessoas a uma rendição total aos pés de Cristo. Também senti que era inútil na conversação com indivíduos. A esse respeito, sempre foi esta a minha experiência pessoal.  

Semanas antes de haver deixado Kalb, para me deslocar à assembleia sinodal, eu estive imensamente exercitado em oração intervencionada directamente e direccionada pelo próprio Espírito Santo, obtendo mesmo uma experiência que me era total novidade até então. Achei-me de tal forma exercitado pela salvação das pessoas à minha volta, abatido por um enorme pesar em mim próprio, sentindo sua perdição incomparável, que fui constrangido a orar sem cessar. Algumas de minhas muitas experiências, na verdade alarmavam-me enormemente. Um espírito que importuna fazia-me clamar a Deus manifestando meu desagrado no que toca as Suas promessas, as quais eu me recusava abandonar sem que visse total cumprimento sobre elas, manifestamente. Achava mesmo que nunca teria como e porque ser recusado. Estava tão seguro de que seria prontamente atendido, que a fidelidade a tudo quanto prometeu, a tudo aquilo que Ele era pessoalmente, que me ouvia a mim mesmo dizendo com frequência "Senhor, espero que não aches que eu possa ser negado quanto a estes pedidos. Eu tenho na minha própria mão um aval de Tuas promessas e de Tua total fiabilidade. Nunca terei porque não sair daqui atendido por Ti pessoalmente!" Nunca terei como descrever o quão absurdo e quão obsoleto era a incredulidade para mim pessoalmente e como seriam seguríssimas, em toda a minha mente e que Deus me ouviria, pois eram orações que eu fazia subir diariamente, de hora em hora mesmo em total fé agonizante. Eu não tinha a menor ideia de como Deus atenderia a minhas muitas súplicas, ou de que forma viria a resposta cabal e integralmente minuciosa, nem o tempo preciso em que veria tal resposta sair do seio de Deus. A impressão total seria de que a resposta estaria mesmo ali à porta. E sentia-me fortalecido em toda minha vida espiritual imatura, quando sentia a destreza e peculiaridade daquela luta em lugares celestiais contra poderes do mal obscuros e terríveis. Por essa razão esperava sempre ver uma maior manifestação real do poder de Deus, em toda aquela região onde despendia minhas forças em labores infinitos.

 

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