A VERDADE DO EVANGELHO
TEOLOGIA SISTEMÁTICA

Charles Finney

 

AULA 30

ELEIÇÃO

 

Discutindo esta matéria,

Comentarei alguns pontos sobre os quais existe uma concordância geral entre todas as denominações cristãs, no que diz respeito aos atributos naturais e morais de Deus.

1. Todos concordam que eternidade é um atributo natural de Deus, no sentido de que Ele não envelhece. Ele está posicionado em relação ao tempo, do mesmo modo que estava antes que o mundo ou o universo fosse por Ele criado, assim como Ele está agora, ou como estará no dia do juízo.

2. Todos concordam que onisciência é um atributo de Deus, no mesmo sentido de que Ele conhece necessariamente, a partir de sua infinita natureza, tudo aquilo que for objeto de conhecimento.

3. Que Ele tem necessária e eternamente possuído este conhecimento, de modo que jamais tenha tido, e jamais poderá ter, qualquer incremento em seu conhecimento. Tudo o que nunca tenha sido, ou que ainda será, ou que possa ser objeto de conhecimento, necessariamente foi eternamente conhecido por Deus. Se este fato não fosse verdadeiro, Deus não seria nem infinito, e nem onisciente.

4. Também é aceito por todos, que Deus exerce uma providência universal, que abrange a todos os eventos que ocorreram ou que virão a ocorrer em todos os mundos. Alguns destes eventos ocorrem por sua própria ação, outros sob a sua providência, no sentido de que Ele permite ou suporta que estes ocorram, ao invés de tomar providências para evitá-los. Estes devem ser referidos como sendo verdadeiramente realizados sob sua providência, porque o seu plano de governo, de certo modo, abrange a todos. Ele proveu que aqueles que são bons aconteçam, isto é, as intenções sagradas dos agentes morais, e a rejeição dos maus que se apresentam como se fossem bons, isto é, as intenções egoístas dos agentes morais. Estas intenções são eventos, e devem ser consideradas como tendo ocorrido sob a Providência Divina, porque todos os eventos que ocorrem ou que ocorrerão, são e deverão ser resultados já dantes previstos pela própria presciência e ações de Deus, ou de sua obra da criação.

5. Todos estão de acordo que a infinita benevolência é o resultado da soma de todos os atributos morais de Deus.

6. Que Deus é tanto natural como moralmente imutável; que Ele necessariamente o é em seus atributos naturais, e certamente o é em seus atributos morais.

7. Todos concordam que todos aqueles que são convertidos, santificados e salvos, são convertidos, santificados e salvos por obra de Deus; isto é, que Deus os salva através de seu poder de guardá-los, por sua própria vontade, em sua santidade pessoal e individual.

 

O que a doutrina bíblica da eleição não é.

1. A doutrina bíblica da eleição não significa que qualquer pessoa escolhida para a salvação, de determinado modo, seja salva ou possa ser salva sem que tenha o arrependimento, a fé, e a santificação.

2. Também não é como se alguns fossem escolhidos para a salvação, neste sentido, e que serão salvos independentemente de terem sido regenerados e perseverarem em santidade até o final de sua vida. A Bíblia ensina plenamente que estas são condições naturais indispensáveis para a salvação, sendo óbvio que a eleição não pode dispensá-las.

3. Da mesma forma não é correto que qualquer pessoa seja escolhida para a salvação por causa de, ou por conta de seus próprios méritos ou boas obras que possa fazer: "...que nos salvou e chamou com uma santa vocação; não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos dos séculos" (2 Tm 1.9). O fato previsto, através do mais sábio arranjo governamental, para que Deus pudesse converter, santificar e qualificar pessoas para o céu, deve obrigatoriamente ter sido uma condição no sentido sine qua non, da eleição destas pessoas para a salvação, mas pode não ter sido a razão fundamental para esta salvação, como veremos mais adiante. Deus não as elegeu para a salvação por causa de, por conta de suas previsíveis boas obras, porém sob a condição de seu previsível arrependimento, fé e perseverança.

4. A doutrina bíblica da eleição não consiste em que Deus tenha eleito alguns para a salvação, sob certas circunstâncias, de modo que seja realmente incerto se estes de fato cumprirão determinadas condições para que sejam finalmente salvos. A Bíblia não deixa a questão da salvação final dos eleitos como se fosse um tema de real incerteza. Devemos enxergá-lo em seu próprio lugar. Os eleitos foram escolhidos para a salvação, sob a condição de Deus ter previsto que Ele mesmo poderia assegurar-se do arrependimento, da fé e da perseverança final destas pessoas.

 

O que a doutrina bíblica da eleição é.

Ela trata de todos aqueles, da raça de Adão, que foram ou que ainda serão salvos, e que por Deus foram escolhidos desde a eternidade para uma eterna salvação, através da santificação de seus corações pela fé em Cristo. Em outras palavras, são escolhidos para a salvação por meio da santificação. A sua salvação é o final -- a sua santificação é o instrumento. Tanto o fim como o instrumento são eleitos, designados, escolhidos; os meios são realmente como um fim, e existem por causa desta finalidade. A eleição de certos indivíduos e nações para certos privilégios, e para que façam determinadas coisas, não é o tipo de eleição do qual estou tratando neste momento; porém estou considerando a doutrina da eleição no tocante à eleição para a salvação, como acabei de explicar.

 

Devo provar a doutrina quando a declaro como verdadeira.

1. Está plenamente implícito no ensino bíblico: a Bíblia assume e deixa subentendido a verdade desta doutrina assim como é de se esperar, uma vez que esta verdade se segue de modo tão irresistível, dos atributos conhecidos e admitidos como sendo parte de Deus. Ao invés de revelá-la formalmente como uma verdade desconhecida, ou irreconhecível para a razão humana, as Escrituras de vários modos falam dos eleitos, da eleição, etc, como verdades que são conhecidas através de irresistíveis inferências de seus atributos conhecidos. Negá-las envolve a negação dos atributos de Deus. Senti-me surpreso ao dar-me conta dos esforços de pesquisas que visam mostrar que esta doutrina não é expressamente ensinada na Bíblia Sagrada. Suponhamos que não o fosse, o que seria, então? Outras verdades são ensinadas e a razão reafirma de modo irresistível as verdades, dentre as quais a doutrina da eleição, como eu já declarei, que deve-se seguir. É comum os escritores inspirados tratarem verdades desta categoria do mesmo modo que esta, e assim na maior parte dos casos. Suponhamos que fosse possível explicar cada passagem das Escrituras, de modo que nenhuma delas devesse sem qualquer equívoco declarar a doutrina em questão; isto não teria propósito algum; a doutrina ainda seria irresistivelmente inferível a partir dos atributos de Deus. Ela ainda seria verdadeira, pois a Bíblia assume a veracidade da doutrina, e como conseqüência fala dela como sendo uma verdade que vem da razão, e seguindo sem dúvida a partir dos atributos de Deus. Ela é portanto tratada ao longo das Escrituras como um todo. A Bíblia realmente assume a verdade desta doutrina, assim como faz quanto à existência de Deus. Ela é tão assertiva neste assunto, quanto o é quando trata dos atributos de Deus. As pesquisas e trabalhos para mostrar que esta doutrina não é expressamente afirmada na Bíblia, não têm qualquer valor, uma vez que esta segue-se como uma verdade que é conseqüência dos atributos de Deus, e dos fatos revelados, de que um número de pessoas será salvo, e que Deus os salvará, mesmo que a Bíblia se mantivesse em silêncio sobre este assunto. Portanto devo somente apresentar algumas passagens com o propósito de mostrar que os escritores inspirados repetidamente reconhecem a veracidade desta doutrina, e assim preservam a sua própria consistência. Porém não procurarei prová-lo através de elaborada crítica com base nas Escrituras, pelas razões já mencionadas: "Assim, os derradeiros serão primeiros, e os primeiros, derradeiros, porque muitos são chamados, mas poucos, escolhidos" (Mt 20.16).

"E, se aqueles dias não fossem abreviados, nenhuma carne se salvaria; mas, por causa dos escolhidos, serão abreviados aqueles dias" (Mt 24.22).

"Não falo de todos vós; eu bem sei os que tenho escolhido" (Jo 13.18).

"Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós, e vos nomeei, para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça, a fim de que tudo quanto em meu nome pedirdes ao Pai ele vos conceda.

"Se vós fósseis do mundo, o mundo amaria o que era seu, mas, porque não sois do mundo, antes eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos aborrece" (Jo 15.16,19).

"E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados por seu decreto.

"Porque os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos" (Rm 8.28,29).

"E não somente esta, mas também Rebeca, quando concebeu de um, de Isaque, nosso pai; porque, não tendo eles ainda nascido, nem tendo feito bem

ou mal (para que o propósito de Deus, segundo a eleição, ficasse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama), foi-lhe dito a ela: O maior servirá o menor.

"Como está escrito: Amei Jacó e aborreci Esaú.

"Que diremos, pois? Que há injustiça da parte de Deus? De maneira nenhuma!

"Pois diz a Moisés: Compadecer-me-ei de quem me compadecer e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia" (Rm 9.10-15).

"Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em caridade ... nele, digo, em quem também fomos feitos herança, havendo sido predestinados conforme o propósito daquele que faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade" (Ef 1.4,11).

"Sabendo, amados irmãos, que a vossa eleição é de Deus" (1 Ts 1.4).

"Porque Deus não nos destinou para a ira, mas para a aquisição da salvação, por nosso Senhor Jesus Cristo" (1 Ts 5.9).

"Mas devemos sempre dar graças a Deus, por vós, irmãos amados do Senhor, por vos ter Deus elegido desde o princípio para a salvação, em santificação do Espírito e fé da verdade" (2 Ts 2.13).

"Eleitos segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo" (1 Pe 1.2).

"A besta que viste foi e já não é, e há de subir do abismo, e irá à perdição. E os que habitam na terra (cujos nomes não estão escritos no livro da vida, desde a fundação do mundo) se admirarão vendo a besta que era e já não é, mas que virá" (Ap 17.8).

Esta doutrina está expressamente afirmada, ou indiretamente assumida e implícita em cada parte da Bíblia, e de modos e instâncias tão numerosas que não é possível citá-las nas aulas contidas neste livro. As citações feitas há pouco, são apenas exemplos do tratamento que as Escrituras dispensam a este assunto.

2. Ela é uma doutrina completamente racional.

(1) Admite-se que Deus por seus próprios atos garante a conversão, a santificação, e a salvação de todos aqueles que já foram ou que ainda serão salvos.

(2) Seja qual for a determinação ou as ações que Deus realize para converter e salvar pessoas, Ele as realiza com o desígnio de assegurar este final; ou seja, Ele o faz de acordo com um plano prévio, conforme o seu desígnio, e do modo que quer. Esta é uma verdade universal, e viva, que seja o que for que Deus faça a favor da salvação do ser humano, Ele o faz de modo planejado para que haja a segurança quanto à salvação de todos aqueles que foram e daqueles que ainda serão salvos, ou daqueles que Ele mesmo vê que pode assegurar, e com a certeza do conhecimento de que assegurará a salvação deles. Deus também faz muito a favor da salvação dos não eleitos, no sentido de usar para com eles tais meios capazes de garantir a segurança necessária, e que devem asseverar a salvação destes. Porém como Ele mesmo já sabe que não haverá sucesso na tentativa de garantir a salvação destes, por causa da voluntária e perseverante maldade que possuem em si mesmos, não pode ser dito com verdade que Ele utiliza estes meios no formato que lhes trará com certeza a salvação, mas por outras, e boas, e sábias razões.

Embora Deus saiba de antemão que não seja possível assegurar a salvação destas pessoas, por causa da voluntária e pertinaz descrença que possuem, contudo mesmo assim enxerga como um fato importante sob seu governo, manifestar prontidão para salvar a estas pessoas, e utilizar tais meios, que Ele sabiamente é capaz de utilizar para salvá-las, e estes serão de tal modo favoráveis à salvação, que estas pessoas serão finalmente vistas como completamente indesculpáveis por não serem salvas.

Porém a respeito daqueles que Deus de antemão enxerga que pode salvar e de fato salvará, deve obrigatoriamente ser certo, uma vez que Ele é um ser bondoso, que utiliza meios para a salvação destes, de modo projetado para que sejam salvos. E a partir daí, como já vimos, sendo um ser onisciente, utilizará estes meios não apenas de modo que sejam salvos, mas também com a certeza de que os salvará. A respeito destes, Ele utiliza estes meios para que esta finalidade seja alcançada; isto é, em favor da salvação destes.

(3) Porém se Deus escolher salvar a quaisquer seres humanos, este fato deverá sempre ser uma escolha dEle, caso contrário terá mudado. Se Ele tem no presente, ou terá em alguma ocasião, qualquer plano sobre isto, sempre deve ter tido tal plano; porque Ele jamais tem, e jamais poderá ter qualquer novo plano. Se Deus alguma vez o fizer, ou desejar fazê-lo, eleger algum ser humano para a salvação, deve tê-lo sempre escolhido ou elegido; pois dizer que já fez, ou que ainda formará algum novo propósito, é algo inconsistente com a sua imutabilidade.

(4) Se Ele sempre saberá quem será salvo, deverá sempre ter tido este conhecimento, pois alcançar novos conhecimentos é algo contrário à sua onisciência.

(5) Cristo nos diz que no dia do juízo proferirá aos justos, "Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o Reino que vos está preparado desde a fundação do mundo" (Mt 25.34), isto é, desde a eternidade. Agora, terá o juiz naquela ocasião algum novo conhecimento ou plano a respeito destes indivíduos? Certamente que não.

(6) Uma vez que Deus conhece desde a eternidade tudo a respeito dos eleitos que serão sempre verdadeiros, deve fatalmente ter feito escolhas a respeito deles; pois é naturalmente impossível que não tenha feito nenhuma escolha sobre, ou a respeito deles e de sua salvação.

(7) Uma vez que Deus deve ter necessariamente feito, desde a eternidade, algumas opções a respeito da salvação dos eleitos, segue-se que Ele deve ter escolhido que seriam salvos, ou que não usaria métodos que sabia de antemão que serviriam para a salvação deles. Se Deus optou por não utilizar métodos que sabia de antemão que serviriam para a salvação deles, porém mais tarde os salvou, significa que Ele mudou, o que é contrário à sua característica de imutabilidade. Se a escolha dEle foi sempre que estes fossem salvos, este é exatamente o assunto que estamos discutindo.

(8) Deve, portanto, ser obrigatoriamente verdadeiro que todos aqueles que Deus salvou e outros que ainda salvará, foram escolhidos por Ele para a salvação desde a eternidade; e uma vez que os salva por meio da santificação em Cristo, e o faz de modo planejado, segue-se que isto deve ter obrigatoriamente sido planejado ou intencionado por Ele na eternidade.

Para negar a doutrina da eleição, portanto, deve estar envolvida a negação dos atributos de Deus.

(9) Também deve ser inevitavelmente verdadeiro que Deus sempre soube, de antemão, tudo o que acontecerá aos não eleitos, e sempre deve ter tido na eternidade algum plano quanto ao destino final destes. E também que desde a eternidade este plano foi o mesmo, e que será o único desígnio que terá a respeito destes. Porém isto voltará à pauta para consideração na ocasião correta.

 

Quais podem ter sido as razões para a não eleição.

1. Todos admitem que Deus é infinitamente benevolente e sábio. Portanto segue-se que a eleição está alicerçada em uma razão ou em razões; e que estas razões são boas e suficientes; razões que levaram Deus à opção de escolher exatamente como Ele o fez, quanto à eleição. Assumindo, como devemos fazer, que Deus é sábio e bom, estamos seguros ao afirmar que Ele não deve ter tido outras razões, senão a sua própria benevolência, para a eleição de alguns para a vida eterna, em detrimento de outros. Daí, temos o limite para afirmar que a eleição não está fundamentada sobre, e nem implica em qualquer parcialidade por parte de Deus, em nenhum mau sentido deste termo. A parcialidade, em qualquer ser, consiste em preferir a um em relação a outro, sem qualquer boa ou suficiente razão, ou em oposição a razões boas ou suficientes. Uma vez admitido que Deus é sábio e bom, segue-se que Ele não pode ser parcial; que não pode ter eleito alguns e desprezado a outros para a salvação eterna, sem que exista uma razão boa e suficiente. Isto é, Deus não pode tê-lo feito arbitrariamente. A grande objeção que é sentida e reclamada pelos opositores a esta doutrina, é que ela implica em parcialidade por parte de Deus, representando-o como alguém que decide o destino eterno de agentes morais através de uma soberania arbitrária. Porém esta objeção é uma premissa que está fora da direção correta, e não tem qualquer garantia ou respaldo quando analisada no contexto global. Ela assume que Deus não poderia ter boas e suficientes razões para a eleição. Foi estabelecido que o bem é a finalidade sobre a qual Deus posicionou o seu próprio coração; isto é, o seu próprio mais alto bem estar e do universo das criaturas. Esta finalidade deve ser realizada através dos meios. Se Deus é infinitamente sábio e bom, com certeza deve ter escolhido os melhores meios práticos. Porém Ele escolheu os melhores meios para alcançar aquela finalidade, e não é possível que exista qualquer parcialidade nisto.

Como suporte a esta premissa, esta eleição implica em parcialidade, e o exercício de uma soberania arbitrária em Deus, o que já foi afirmado, que haveriam diversos tipos de meios para que se assegurasse o mesmo final, em respeito a cada tópico de modo igual entre si; isto é, que não haveria motivo para que se preferisse qualquer das opções, dentre as muitas disponíveis; e que por ter escolhido a presente, tenha Deus sido parcial, ou que tenha exercido uma soberania arbitrária. A isto respondo:

(1) Não há qualquer base para que se considere como verdadeira, a premissa de que existam ou que possam existir diversos tipos de meios que possuam precisamente o mesmo valor em todos os aspectos, em determinado sentido, de modo que não possam ter havido boas razões para que se tenha preferido um em relação a outro.

(2) Eu respondo, que se de fato existissem estes diversos meios, a escolha de algum deles, em detrimento de outro, não implicaria em preferência. A escolha de cada um neste caso, deveria ter sido feita sobre a seguinte base; um meio deveria ser escolhido, de acordo com a adequação de suas características aos requisitos necessários para que se alcance o objetivo final. E então, não existindo qualquer diferença entre os vários tipos de meios, Deus poderia escolher um sem referir-se a outro, e não faria qualquer escolha em relação a isto, como se não existissem outras opções. Ele deveria escolher a algum, não teria razões para preferências, e consequentemente não estaria dando preferência a qualquer meio em detrimento de outro. A sua benevolência o leva a escolher um, porque isto é necessário. Ele portanto toma um dentre muitos que são exatamente iguais, indiferentemente, sem preferi-lo dentre outros. Isto não implica que exista qualquer parcialidade de Deus, em um mau sentido deste termo. Pois sobre a suposição, era absolutamente necessário que Ele fizesse uma escolha dentre muitas alternativas exatamente iguais. Nestas condições, se Deus fosse considerado parcial por escolher aquilo que escolheu, também o teria sido se tivesse feito qualquer outra escolha. Se isto é parcialidade, é uma parcialidade que emerge da própria necessidade da situação ou do caso, e não pode implicar em qualquer objeção a Deus.

E bastante claro que não existe neste caso qualquer preferência, pois não existe qualquer fundamento ou razão para que hajam preferências, de acordo com a suposição. Mas não pode haver qualquer escolha ou preferência, quando não existe absolutamente qualquer razão para a escolha ou preferência. Vimos em uma ocasião anterior que a razão que determina a escolha, ou a razão em vista da qual, ou em obediência à qual, ou por causa da qual a mente faz uma escolha, e o objeto ou o fim escolhido, são idênticos. Quando não existe absolutamente qualquer razão para que se faça uma escolha, não existe absolutamente qualquer objeto para escolha, nada para escolher, e é claro, não pode existir a escolha. A escolha deve ter obrigatoriamente um objeto; isto é, a escolha deve ter seu fim sobre algo. Se a escolha existe, algo deve ser escolhido. Se existirem diversos sistemas de meios, dentre os quais não exista qualquer fundamento para a preferência, não poderá existir absolutamente qualquer preferência de um em relação a outro, pois seria o mesmo que escolher sem que existisse o objeto da escolha, ou que não se escolhesse nada, o que é uma contradição.

Se for dito que não existe absolutamente nenhuma diferença entre os tipos ou sistemas de meios, uma vez que a preocupação é atingir o objetivo final, mas que um dos meios possivelmente seja preferido ou preferível em relação a outro, por conta de qualquer outra razão, pergunto, por conta de que outra razão? De acordo com a suposição, estes meios são valorizados ou considerados como um mero objeto de escolha, por estarem relacionados ao objetivo maior que é o objetivo final. Deus pode escolhê-los somente como um meio, como uma condição ou com determinada finalidade; pois todas as escolhas devem respeitar este critério. A investigação agora diz respeito aos meios. Agora, se como meios, não existe absolutamente qualquer diferença entre as opções, em relação ao objetivo final, e o valor do final é a única razão para escolhê-los, segue-se que preferir um em relação a outro, é uma impossibilidade natural. Porém algum terá que ser escolhido para que o objetivo final seja atingido, não importa qual seja; qualquer um deles pode ser tomado independentemente daquilo que toca aos outros.

Isto não é parcialidade, e nem o exercício de uma soberania arbitrária em qualquer sentido que se possa objetar.

Mas como eu disse, não existe nenhum fundamento para que se assuma esta premissa, de que existam vários sistemas de meios para que se realize a grande finalidade da benevolência de modo igual em todos os aspectos. Deve existir um caminho que é melhor do que outros, um sistema melhor, e sendo Deus infinitamente sábio e bom, deve ter feito a escolha com base neste fato; e isto somente é possível através da parcialidade. Nem nós mesmos, nem qualquer outra criatura somos capazes, agora, de descobrir quaisquer boas razões para preferir o presente em relação a qualquer outro sistema, ou de eleger aqueles que estão eleitos, em detrimento de outros. Contudo, tais razões devem ter sido, com toda a certeza, aparentes no pensamento Divino, ou então nenhuma eleição como tal poderia ter acontecido.

2. A eleição não foi um exercício de soberania arbitrária. Entende-se por soberania arbitrária, os atos de escolher e agir de acordo com a mera vontade, sem consulta à obrigação moral ou ao bem público. É amplamente admitido que Deus é infinitamente sábio e bom. Portanto é impossível que Ele tenha atitudes de escolhas arbitrárias, ou que as suas ações sejam arbitrárias, seja qual for o caso. Ele deve ter boas e suficientes razões para cada escolha e para cada ato.

Parece que alguns representaram a Deus, no propósito ou no ato da eleição, como elegendo a alguns e não a outros, meramente por seu poder ou vontade, ou, em outras palavras, com a finalidade de mostrar a sua própria soberania, sem quaisquer outras razões que justificassem as suas ações, além de sua vontade. Porém para Deus é impossível agir de modo arbitrário, ou por qualquer outra razão que não seja boa e suficiente; isto é, é impossível que Ele aja deste modo e continue sendo benevolente. Dissemos que Deus tem apenas um, e não mais do que um objetivo em vista; isto é, que Ele age, fala, e tudo suporta por uma única e mesma razão, isto é, para promover o mais alto bem estar de cada ser. Ele não tem outro objetivo supremo além deste, e a sua vontade, resume-se nos esforços para garantir este fim. O mais alto bem estar do universo, incluindo o seu próprio, como Criador, terá lugar quando enfim a sua suprema e fundamental escolha for concluída. Toda a sua vontade está designada para assegurar este final, e em todas as suas ações Ele é, e sempre deve ser, dirigido por sua própria infinita inteligência, não apenas quanto ao seu desígnio final, mas também na escolha e na utilização dos meios para realizar este fim. É impossível que isto não seja verdadeiro, uma vez que Ele é Deus. Quanto à eleição, portanto, não é possível que tenha exercido qualquer soberania arbitrária, mas deve ter tido as melhores razões para ter realizado a eleição. A sua inteligência teve boas razões para que tivesse escolhido a uns e não a outros para a salvação, e ter afirmado a sua obrigação em vista destas razões, para que elegesse do modo como o fez, e as pessoas a quem elegeu. Estas razões devem ter sido tão boas para que Ele assim o fizesse, que se o fizesse de outro modo, haveria pecado nEle; isto é, ter feito de outro modo não teria sido sábio e bom.

3. A eleição não foi baseada em uma diferença prevista no caráter moral dos eleitos e dos não eleitos, antes da regeneração. A Bíblia afirma em todas as partes que, antes da regeneração, todos os seres humanos possuem exatamente o mesmo caráter, possuindo um coração e disposições comuns, e que este caráter é o de completa depravação moral. Deus não escolheu para a salvação aqueles, que tenha conhecido em sua presciência, que seriam menos depravados ou culpados do que os não eleitos, antes da regeneração. Paulo foi um dos escolhidos, e contudo ele mesmo afirma ter sido o maior dos pecadores. Freqüentemente vemos, e tem sido comum em todas as épocas, as pessoas mais desamparadas e devassas tornarem-se convertidas e salvas.

A razão para a eleição, não se encontra no fato de que Deus tenha visto que alguns seriam convertidos mais prontamente do que outros. Freqüentemente vemos que aqueles que se convertem, passaram por um longo período de obstinação e rebelião, enquanto faz-se necessário que Deus permita que venha sobre estes uma grande variedade de meios e influências, que aparentemente lhes trazem muito mais dores para que se convertam, do que os meios que Ele utiliza para a completa conversão de muitos outros que são, bem como dos que não são, convertidos. Existem razões para crermos que se fossem utilizados os mesmos meios tanto para com aqueles que não são convertidos, como para os que já o são, muitos que não são convertidos se converteriam. Provavelmente não seja sábio em Deus, utilizar os mesmos meios para os não eleitos, e se Ele devesse fazê-lo, eles deveriam, ou provavelmente não deveriam, ser salvos através deles. Deus freqüentemente utiliza meios que para nós parecem ser mais poderosos para converter os não eleitos, do que aqueles que são utilizados para converter muitos dos não eleitos. Isto está completamente implícito em Mateus 11.20-24. O fato é que Ele deve ter alguma razão ou critério, além do caráter das pessoas em relação à obstinação, para elegê-las para a salvação.

 

Quais devem ter sido provavelmente as razões para a eleição.

1. Temos visto que Deus é infinitamente sábio e bom. Da sabedoria e bondade de Deus, segue-se que Ele deve ter escolhido algum fim bom, e que deve ter tido algum plano, ou sistema de meios, para garanti-lo. O final, sabemos,

é o bem do ser. Conhecemos pela razão e por revelação, que os meios incluem a eleição no sentido anteriormente explicado. Segue-se que a razão fundamental para a eleição foi o mais alto bem do universo. Isto é, o melhor sistema de meios para assegurar o grandioso final de benevolência, incluindo a eleição exclusiva daqueles que foram eleitos, e não de outros. Isto tem sido feito pela sabedoria e benevolência de Deus. Segue-se que o supremo bem o demandou. Todas as opções devem respeitar finalidades, condições ou meios. Deus tem, e pode ter, somente um final supremo. Todas as outras escolhas ou esforços devem respeitar os meios. A escolha ou eleição de certas pessoas para a salvação eterna, etc, devem ter sido fundamentadas na razão, pois o grandioso final preparado pela benevolência o demandou.

2. É muito fácil enxergar que sob um governo moral, seria impossível deste modo administrar a lei, assim como assegurar a perpétua e universal obediência de todos. Também é fácil enxergar, que sob um sistema terapêutico, ou um sistema de graça, seria impossível assegurar o arrependimento e a salvação de todos. Certamente Deus previu todos os resultados possíveis e de fato. Ele deve ter previsto quantos e quem Ele poderia salvar através do melhor arranjo possível, do arranjo mais sábio; todas as variáveis foram consideradas. Tendo garantidas a perfeita sabedoria e benevolência de Deus, segue-se que devemos considerar o presente sistema de meios como sendo o melhor, após terem sido feitas todas as considerações possíveis, que Ele poderia adotar para a promoção do grandioso final sob o seu governo, ou o grandioso final da benevolência. O fato de que o mais sábio e melhor sistema de governo asseguraria a salvação daqueles que foram eleitos, deve ter sido uma "condição" para que estes fossem eleitos. Como Deus desempenha todas as suas ações visando uma única razão suprema, segue-se que o valor intrínseco da salvação deles é o seu supremo final, e que a salvação deles em particular, deve ter sido de grande valor relativo na promoção do mais alto bem do universo em sentido mais amplo, e da glória de Deus, do que teria sido de outro modo; de forma que o valor intrínseco da salvação daqueles eleitos em particular, e o fato de que através do mais sábio arranjo Ele poderia particularmente salvá-los, e o supremo bem que seria promovido por isto, devem ter sido, com certeza, as razões para a eleição.

 

Quando a eleição foi feita.

1. Ela não é feita quando os eleitos se convertem. Todos admitem que Deus é onisciente, e tem o conhecimento de todas as coisas desde a eternidade de modo tão real quanto perfeito, como sempre o conhecerá. Também admite-se que Deus é imutável, e consequentemente não possui novos planos, desígnios ou opções. Ele já teve todos os raciocínios possíveis quanto à eleição, desde os tempos eternos, porque Ele sempre tem tido todo o conhecimento de todos os eventos que há de ter; consequentemente Ele sempre, ou desde a eternidade, tomou decisões em relação a todos os eventos como sempre Lhe coube. Jamais existirá qualquer razão para que ocorram modificações no pensamento Divino, pois Ele jamais terá quaisquer novas visões sobre quaisquer assuntos. A escolha que constitui a eleição, portanto, deve ser uma escolha eterna.

2. As Escrituras a apresentam da seguinte maneira:

"Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em caridade" (Ef 1.4).

"Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas" (Ef 2.10).

"Que nos salvou e chamou com uma santa vocação; não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos dos séculos" (2 Tm 1.9).

"A besta que viste foi e já não é, e há de subir do abismo, e irá à perdição. E os que habitam na terra (cujos nomes não estão escritos no livro da vida, desde a fundação do mundo) se admirarão vendo a besta que era e já não é, mas que virá" (Ap 17.8).

Esta linguagem, sem dúvida, significa desde a eternidade.

3. Porém surgirá a seguinte questão: A eleição estava na ordem natural subseqüente à presciência Divina, ou a precedeu? A resposta correta para esta questão é que, na ordem natural, tudo o que pudesse ser sabiamente feito, foi previsto antes que fosse determinado o que deveria ser feito. E aquilo que seria feito deve, segundo a ordem natural, ter precedido o conhecimento daquilo que seria feito. De modo que na ordem da natureza, o conhecimento prévio daquilo que poderia ser sabiamente feito precede a eleição, e o conhecimento prévio daquilo que seria feito, veio a seguir ou foi subseqüente à eleição1.

Em outras palavras, Deus deve obrigatoriamente ter conhecido quem eram as pessoas que Ele poderia sabiamente salvar, previamente, na ordem natural, à sua determinação de salvá-las. Porém o seu conhecimento sobre quem deveria ser salvo deve ter sido, na ordem natural, subseqüente à eleição que Ele realizou, ou à sua determinação de salvá-los, e dependente daquela determinação.

 

A eleição não fornece meios desnecessários à salvação dos eleitos.

Temos visto que os eleitos são escolhidos para a salvação, através da utilização dos meios preparados por Deus. Uma vez que são escolhidos para a salvação por estes meios, não podem ser salvos de qualquer outro modo, ou sem estes meios.

 

A eleição é a única base para a esperança no sucesso dos meios.

1. Nenhum meio é útil a menos que Deus lhe dê a eficiência.

2. Se Deus lhes dá a eficiência, de qualquer modo, ela é, e será, de acordo com, e em execução à sua eleição.

3. Segue-se que a eleição é a única base de esperança racional na utilização dos meios, para a efetivação da salvação de pessoas.

 

A eleição não coloca nenhum obstáculo à salvação dos não eleitos.

1. Deus tomou o cuidado de trazer a salvação de modo que esta esteja ao alcance de todos, e fazendo-a possível a todos.

2. Ele sinceramente se oferece para salvar a todos, e faz todo o possível para salvar a todos aqueles que Ele pode sabiamente salvar.

3. O fato dEle salvar a uns não deve ser desencorajador para outros, pelo contrário, este fato deve encorajá-los a apegar-se à vida eterna.

4. A eleição de alguns não se constitui uma barreira à salvação de outros.

5. Aqueles que não são eleitos também devem ser salvos, se porém cumprirem as devidas condições para isto.

6. Deus sinceramente chama os não eleitos à salvação, e assim também devem proceder os seus ministros.

7. Não há nenhum dano ou injustiça feita aos não eleitos pela eleição de outros. Porventura Deus "não tem o direito de fazer o que quiser daquilo que é dEle?". Se Ele oferece a salvação a todos sobre termos mais razoáveis, e se Ele faz tudo o que pode sabiamente fazer pela salvação de todos, alguns reclamarão se Deus, fazendo tudo aquilo que é capaz de sabiamente fazer, garante a salvação de alguns e não de outros?

 

Não existe nenhuma injustiça na eleição.

Deus não tinha nenhuma obrigação com quem quer que fosse -- Ele poderia, em perfeita justiça, ter enviado toda a humanidade para o inferno. A doutrina da eleição não traz dano a ninguém: por tratar os não eleitos de acordo com os seus méritos, Ele não lhes faz injustiça; e certamente a sua graça exercitada na salvação dos eleitos, não é um ato de injustiça para com os não eleitos; e isto se mostrará especificamente verdadeiro, se levarmos em consideração o fato de que a única razão pela qual os não eleitos não serão salvos, é devido a recusarem a salvação obstinadamente. Ele oferece misericórdia a todos. A expiação é suficiente para todos. Todos devem aproximar-se, e estão sob a obrigação de serem salvos. Ele anela pela salvação deles, com um desejo muito forte, e sabiamente faz tudo o que lhe for possível para salvá-los. Então porque a doutrina da eleição deveria ser encarada como injusta? 2

 

Este é o melhor que pode ser feito pelos habitantes deste mundo.

É razoável inferir, a partir da infinita benevolência de Deus, que o seu presente governo assegurará uma grande medida de bem, maior do que poderia ser assegurada sob qualquer outro modo de administração. Isto é tão certo quanto esta infinita benevolência deve, sem dúvida, preferir uma maior medida do bem, do que uma menor. Para supor que Deus preferiria um modo de administração, que asseguraria um bem menor do que poderia ser assegurado sob algum outro modo, seria acusá-lo abertamente de falta de benevolência. É sem dúvida verdadeiro que Ele poderia variar o curso dos eventos para que salvasse outros indivíduos em detrimento daqueles que tem salvado; para aumentar o número de conversões em uma determinada vizinhança em particular, ou em uma família, ou em uma nação, ou em uma ocasião em particular; ou poderia haver um número maior de conversões, em relação ao todo. Não se seguiria que Ele não assegura que haja um bem maior sobre todo o bem que tem proporcionado.

Suponhamos que exista um homem nesta cidade, que tenha se entrincheirado tão fortemente no erro, que não exista sequer um homem em toda a região que seja tão familiar ao seu refúgio de mentiras, que seja capaz de responder às suas objeções, e que o retire de seus esconderijos. Agora, é possível que, se este indivíduo pudesse ser posto em contato com ele, pudesse ser convertido; contudo, se ele estiver empregado em alguma parte distante da vinha, a sua remoção daquele campo de trabalho para a sua cidade, provavelmente não seria, em relação ao todo, algo para a glória do reino de Deus; e mais deveriam fracassar em relação à salvação, através da remoção deste, do que aqueles que seriam salvos convertidos através daquela mudança. Deus tem em vista o bem de seu reino como um todo. Ele trabalha sobre uma escala vasta e compreensiva. Ele não tem parcialidade quanto a indivíduos, mas segue avante na administração de seu governo, com os seus olhos sobre o bem geral, planejando para que possa assegurar que exista a maior alegria possível dentro de seu reino, que possa ser assegurada através do arranjo mais sábio possível, e da administração de seu governo.

 

Como é que podemos apurar a nossa própria eleição.

Aqueles dentre os eleitos que já estão convertidos, são conhecidos por seu caráter e conduta. Estes possuem a evidência de sua eleição em sua obediência a Deus.

Aqueles que não são convertidos devem formular a questão cada qual a si mesmo, se é uma pessoa eleita ou não, de modo a ter a evidência mais satisfatória possível de se faz ou não parte deste número feliz. Se você sentir agora o desejo de submeter-se a Deus, já terá a evidência de que é um escolhido. Porém nos casos em que a pessoa rejeita a submissão, a evidência de que ela não é eleita aumenta.

Cada pecador que está sob o Evangelho, tem sob o seu poder a liberdade para aceitar ou rejeitar a salvação. Os eleitos somente podem conhecer a sua eleição, através da aceitação da dádiva que lhes é oferecida. Os não eleitos somente são capazes de conhecer a sua não eleição, através da consciência de uma rejeição voluntária em relação à vida que lhes é oferecida. Se alguém teme não ser uma pessoa eleita, deve de uma vez por todas rejeitar a sua própria incredulidade, e deixar de rejeitar a salvação, e a base do medo e das reclamações será instantaneamente banida.

 

Inferências e comentários.

1. A presciência e a eleição não são inconsistentes com o livre arbítrio. Os eleitos foram escolhidos para a vida eterna, sob a condição de que Deus o previu no perfeito exercício da liberdade deles, de modo que eles pudessem ser induzidos ao arrependimento e a abraçar o Evangelho.

2. Veja porque muitas pessoas se opõe à doutrina da eleição, e procuram contradizê-la; em primeiro lugar elas não a compreendem corretamente, e, em segundo lugar, elas fazem a partir daí, deduções que não possuem qualquer garantia.

Eles supõem que ela quer dizer que os escolhidos serão salvos de qualquer modo, seja qual for a conduta deles; e, novamente, inferem a partir da doutrina, que não existe a possibilidade de que os não eleitos sejam salvos. A doutrina, assim como entendido por eles, seria um encorajamento para os eleitos perseverarem no pecado, sabendo que a sua salvação estaria garantida, e a sua inferência conduziria os não eleitos ao desespero, baseando-se em que seria inútil que fizessem qualquer esforço para que pudessem ser salvos. Porém tanto a doutrina, assim como entendido por eles, e a inferência, são falsos. Porque a eleição não assegura a salvação dos eleitos, independentemente de seu caráter e conduta; e nem lança qualquer obstáculo no caminho da salvação dos não eleitos, e disto somos testemunhas.

3. O modo de ver este assunto, não oferece qualquer base para, de um lado a presunção, ou de outro o desespero.

Ninguém pode apenas dizer: se sou escolhido para ser salvo, serei salvo a despeito daquilo que eu faça. Ninguém também pode dizer: se sou designado para a condenação, serei condenado a despeito daquilo que eu faça. Porém a questão está presente, até onde lhes consta, como um assunto de completa contingência. Para os pecadores, a sua salvação ou condenação está absolutamente sob sua completa escolha, como se Deus jamais conhecesse ou designasse qualquer coisa a este respeito.

4. Esta doutrina não implanta qualquer fundamento ou controvérsia para com Deus. Mas por outro lado, ela implanta um amplo alicerce de gratidão, tanto por parte dos eleitos como dos não eleitos. Certamente os eleitos possuem uma grande razão para sentirem gratidão, por serem assim distinguidos. Oh, que pensamento, ter o seu nome escrito no livro da vida, ser escolhido por Deus como herdeiro de uma eterna salvação, ser adotado e passar a fazer parte de sua família, ser destinado a desfrutar de sua presença, e banhar a sua alma no ilimitado oceano do seu amor para sempre e eternamente! Mas será que os não eleitos estão desobrigados em relação à gratidão? Devemos ser pessoas agradecidas, pelo fato de Deus salvar pessoas da família humana. Ainda que todos estivessem perdidos, Deus continuaria sendo justo. E se qualquer pessoa neste mundo moribundo recebesse o presente que é a vida eterna, deveríamos ser agradecidos, e eternamente render graças a Deus.

5. Os não eleitos freqüentemente desfrutam de privilégios tão grandes quanto os eleitos, ou ainda maiores. Muitas pessoas têm vivido e morrido sob o som do Evangelho, têm desfrutado de todos os recursos disponibilizados pela salvação durante uma longa vida, e têm ao final morrido em seus pecados, enquanto outros têm se convertido na primeira vez que ouvem o Evangelho de Deus. Esta diferença não se deve ao fato de os eleitos terem sempre mais lutas espirituais, do que os não eleitos. Muitos daqueles que morrem em seus próprios pecados, aparentavam terem tido a correta convicção durante grande parte de sua vida; terem sempre sido profundamente marcados por um forte senso de conhecimento de seus próprios pecados, e do valor de suas almas, porém muitos se entrincheiraram sob refúgios de mentiras, amaram ao mundo e odiaram a Deus. Além disto, pelejaram contra todos os obstáculos que se colocaram à sua volta, e que tinham a finalidade de evitar que fossem levados à morte, e literalmente forçaram a passagem para que eles mesmos pudessem adentrar os portões do inferno. O pecado foi a escolha voluntária deles.

6. Por que é que a doutrina da eleição, seria uma pedra de tropeço no caminho dos pecadores? Em nada mais utilizam do mesmo modo os propósitos e planos de Deus, como o fazem quando se trata de religião; e, contudo, em todos os demais assuntos, os propósitos e desígnios de Deus estão tão definidos, e têm absolutamente grande influência. Certamente Deus tem planejado

o dia e as circunstâncias da morte das pessoas, bem como se a alma de cada uma destas será salva. Este fato não está somente declarado expressamente na Bíblia Sagrada, como consiste também na completa doutrina da razão. O que você diria se fosse convidado a visitar um vizinho enfermo; e, durante a conversa, através de perguntas, descobrisse que este não comesse e nem bebesse, e que estivesse na realidade se matando por meio da fome. Admoestando-o sobre a conduta adotada, suponha que ele calmamente responda que acredita na soberania de Deus, na presciência, na eleição e nos juízos; que os seus dias estão contados, que a ocasião e as circunstâncias de sua morte já estivessem determinados, que ele não poderia morrer antes de seu tempo, e que todos os esforços que estiverem a seu alcance não serão suficientes para capacitá-lo a viver sequer um momento além do tempo determinado; e que se você tentasse censurar a sua inferência, e tal abuso e perversão da doutrina do juízo, esta pessoa lhe acusaria de ser herege, de não crer na soberania divina. Agora, se você visse um homem tratando de assuntos de caráter geral no mundo, julgando e agindo deste modo, certamente o classificaria como insano. Se fazendeiros, mecânicos e comerciantes julgassem e procedessem deste modo em seus negócios neste mundo, seriam considerados como pessoas que gostam de tumultos.

7. Quão forçosamente a perversão e o abuso desta doutrina ilustram a loucura do coração humano, e a sua absoluta oposição aos termos da salvação! O fato de Deus possuir a sua presciência, e ter planos a respeito de cada evento, não é desculpa para que alguém permaneça ocioso, ou pior do que ocioso, sobre estes assuntos. Porém onde a obrigação do homem para com Deus está comprometida, e particularmente aqui, agarram-se a estas Escrituras, e arrebatam-nas para a sua própria destruição. De modo impressionante este fato traz à tona a demonstração, de que os pecadores desejam uma desculpa para desobedecer a Deus; que almejam por uma apologia que lhes permita viver no pecado; que buscam uma ocasião para travar uma guerra contra o seu criador.

8. Eu já disse anteriormente que esta questão está tão aberta para a decisão de cada pessoa, que cada uma está completamente livre para exercer a sua liberdade, como se Deus jamais conhecesse ou tivesse qualquer plano a respeito da salvação delas. Suponhamos que existisse uma grande fome na cidade de Nova Iorque, e que João Jacó Astor tivesse sozinho a provisão suficiente para toda a cidade, com grande abundância; e que ele fosse um homem benevolente e de pensamento liberal, desejoso por suprir a necessidade da cidade inteira, sem qualquer custo para esta; e suponhamos que existisse um universal e mais irracional prejuízo contra ele, de tal modo que quando ele anunciasse nos noticiários diários, que os seus depósitos estavam abertos para quem quer que quisesse vir e receber provisões, sem dinheiro e sem preço, todos eles, em comum acordo, começassem a escusarem-se e de modo obstinado recusassem-se a aceitar as ofertas. Agora, suponhamos que ele devesse empregar todos os transportadores para que carregassem as provisões pela cidade, e que parassem em cada porta. Mas assim mesmo as pessoas concordassem entre si, preferindo morrer, a estarem endividados para com ele em termos de comida. Muitos falariam tão mal contra ele, que estariam completamente envergonhados por sentir e reconhecer a sua dependência dele. Outros ainda estariam tão fortemente sob a influência deles, que desejariam ofendê-lo; e o sentimento público de oposição seria tão forte, que ninguém teria a coragem moral para romper com a multidão e aceitar a vida. Agora, suponhamos que o senhor Astor conhecesse de antemão o pensamento público, e que todos os cidadãos o odiavam, e que preferiam morrer de fome do que estarem em débito para com ele por causa de comida. Suponhamos que ele também soubesse, desde o princípio, que existissem certos argumentos que ele poderia apresentar a certos indivíduos e que mudariam a opinião destes, e que ele os pudesse pressionar por meio destas considerações, até que desistissem de sua atual posição, aceitassem agradecidos as provisões, e fossem salvos da morte. Suponhamos que ele tenha utilizado sabiamente todos os possíveis argumentos e meios para persuadir, o restante das pessoas, mas que, a despeito de todos os seus benevolentes esforços, eles aderissem à resolução e preferissem a morte às suas propostas de submissão. Suponhamos ainda mais que, desde o princípio, ele tivesse o perfeito conhecimento de todo este problema; a questão da vida e da morte não estaria completamente aberta para a decisão de cada indivíduo, como se ele não soubesse nada a respeito deste assunto?

9. Alguns provavelmente perguntarão: "Por que é que Deus utiliza, para com os não eleitos, meios que Ele tem a certeza de que não serão aceitos?" Eu respondo a esta pergunta do seguinte modo: "Para que não sejam escusáveis". Ele demonstrará ao mundo a sua boa vontade para com estes, e também a obstinação que lhe dão como resposta. Ele efetivamente os fará calar em juízo através da completa oferta de salvação que receberam; e, embora saiba que a rejeição em relação à oferta somente realçará a culpa deles, e agravará o profundo dano que sofrerão, Ele ainda fará a oferta por não existir nenhum outro modo de ilustrar a sua infinita disposição de salvá-los, e a perversa rejeição que eles mostram para com a graça dEle.

10. Por último, Deus requer que prestemos toda a diligência para que façamos segura a sua chamada e eleição. Ao escolher os seus eleitos, devemos compreender que Ele tem depositado a responsabilidade pela salvação destes, sobre eles mesmos; e que o todo está seguro sobre o fato de concordarem com os seus termos; somos perfeitamente capazes de dar o nosso consentimento, e neste momento apegarmo-nos à vida eterna. A despeito da escolha de cada um, nenhuma eleição poderia salvar a qualquer pessoa, e nenhuma reprovação poderia causar qualquer dano. "E o Espírito e a esposa dizem: Vem! E quem ouve diga: Vem! E quem tem sede venha; e quem quiser tome de graça da água da vida" (Ap 22.17). A responsabilidade é de cada um de nós. Deus faz sabiamente tudo o que se pode fazer, e desafia a cada um de nós a mostrarmos o que mais Ele poderia fazer e que ainda não tenha feito. Uma pessoa que vai ao inferno, vai manchada com o seu próprio sangue. Nem Deus nem qualquer criatura angelical tem qualquer culpa. Para nosso próprio mestre estamos em pé ou caímos; a misericórdia aguarda; o Espírito luta; Jesus está em pé diante da porta e bate. Não pervertamos, portanto, a doutrina, tornando-a uma ocasião de tropeço, de modo que pessoas desçam às profundezas do Inferno.

Digo, a única razão pela qual os não eleitos não são salvos, é porque eles pertinazmente recusam a salvação. Mas se isto é verdadeiro, dizem, "segue-se que a única razão pela qual os eleitos são salvos, é a sua aceitação da salvação". Porém não é isto que se segue. Os não eleitos fracassam em relação à salvação, somente porque resistem a toda a graça que Deus é capaz de conceder-lhes. Resistem a esta graça, e fracassam quanto à salvação. Não é mais razoável dizer, que o fato de Deus não lhes dar mais de sua divina influência para convertê-los "é uma razão que está por trás disto", do que seria dizer que Ele não os tenha restringido de pecar, pela ausência da graça de sua divina influência, e que isto consiste na "razão que está por trás" da pertinaz resistência à graça. Se os não eleitos estão perdidos, ou fracassam em relação à salvação somente por resistirem a toda a graça que Deus sabiamente pode dar, não se seguiria que a única razão pela qual os eleitos são salvos, é porque a aceitam, ou rendem-se à mesma medida da graciosa influência como aquela que é concedida aos não eleitos; pois deve ser que, e em muitos casos o fato é que, Deus concede uma maior influência graciosa sobre os eleitos, do que sobre os não eleitos, pois é capaz de sabiamente fazê-lo. Aqui sim está uma completa falta de senso. Observe, estou escrevendo no parágrafo em questão sobre a justiça do procedimento divino. Digo, que no tocante a isto, existe o fracasso quanto à salvação, não por Deus reter a graça que Ele poderia sabiamente oferecer, mas simplesmente porque pessoas rejeitam a graça ofertada, bem como tudo aquilo que pode ser sabiamente ofertado.

Se compreendo bem a posição deste que objeta a doutrina da eleição, existe outra falta de sentido nesta objeção. Entendo que ele diz que sobre a suposição de que os eleitos e não eleitos possuem a mesma medida da influência da graça, e que a razão pela qual os eleitos são salvos, e que os não eleitos não são salvos, é que os eleitos rendem-se a esta influência, enquanto os não eleitos não fazem o mesmo; toda a questão resume-se na liberdade de escolha, e não existe qualquer eleição a este respeito. Se este é o seu significado, como penso que deve ser, trata-se de uma completa falta de sentido. Suponhamos que Deus tenha previsto que isto seria assim, e tendo em vista a sua visão antecipada dos fatos, tenha eleito aqueles que anteriormente viu que se entregariam tanto aos privilégios e às influências graciosas para as quais Ele antecipadamente viu que se renderiam, e para a salvação como conseqüência de sua influência e entrega. E suponhamos que Ele tenha visto previamente que os não eleitos, embora ordenados ou eleitos para desfrutarem a mesma medida de graciosa influência, resistiriam e rejeitariam a salvação, e por esta razão os rejeitou ou os reprovou, em seu eterno propósito. Isto não seria eleição?

Para ter certeza, neste caso os diferentes resultados voltariam-se ao fato da entrega feita pelos eleitos e da falta de entrega dos não eleitos, à mesma medida de influência da graça. Porém haveria uma eleição de um para a vida eterna, e a rejeição do outro. Não posso ver como esta pessoa que está objetando, é capaz de dizer que neste caso não poderia haver eleição, a menos que em sua idéia sobre a eleição exista o exercício de uma soberania arbitrária. Eu suponho que Deus dê aos homens medidas desiguais de sua influência graciosa, porém nisto não existe nada de arbitrário; que, pelo contrário, Ele enxerga as melhores e mais sábias razões para tal; pois estando quanto à justiça, desobrigado em relação a quem quer que seja, Ele exerce a sua própria descrição benevolente, dando a cada um a influência graciosa na medida que Ele vê que deve estar, visando o todo em sabedoria e bondade, o bastante para lançar a total responsabilidade de seus danos sobre eles, se estiverem perdidos. Porém sobre alguns, de antemão viu que poderia sabiamente conceder uma medida suficiente de graciosa influência, para assegurar a sua entrega voluntária. E sobre outros Ele não pode conceder o suficiente para assegurar o mesmo resultado. De acordo com este conhecimento prévio, Ele escolheu os eleitos tanto para a influência graciosa como para o seu resultado, a vida eterna. Em tudo isto não existe nada arbitrário ou injusto. Ele faz tudo por todos aqueles que sabiamente pode fazê-lo. Faz o suficiente para com todos, para que não tenham escusas. Se os não eleitos fossem capazes de se renderem, à medida da graciosa influência que Ele é capaz de conceder, e de fato concede, sobre a vida deles, que é o melhor que pode fazer sem agir com falta de sabedoria, e, é claro, sem maldade, seriam salvos. A isto deveriam entregar-se. Deus não tem o direito de fazer mais do que aquilo que faz por eles, considerando todas as coisas; e não existe razão para que possam reclamar com justiça, por não serem salvos. Eles podem sem maiores razões reclamar do fato de Ele não lhes dar uma influência pela graça, maior do que o fato de tê-los criado, ou de tê-los feito pessoas com liberdade de ação, ou que Ele não os impediu de pecar por completo, ou de fazer qualquer outra coisa que tenha sido não sábio, e portanto, errado de se fazer. Também não é verdade que Deus não lhes tenha concedido a graça suficiente para assegurar a sua entrega e salvação, um "motivo que está oculto em sua obstinação, ao qual deve-se atribuir o fato de que eles não têm sido salvos". Este motivo é maior do que qualquer das razões anteriormente mencionadas.

Esta objeção vem da premissa de que a eleição deve ser incondicional, para que seja realmente uma eleição -- esta eleição deve ser tão bem definida, para que seja a causa da diferença no estado eterno dos eleitos e dos não eleitos. Porém não vejo porque a eleição não pode ser condicionada sobre o fato previsto, de que a administração mais sábia possível, do governo moral, asseguraria a livre concorrência de alguns e não de outros. O que poderia sabiamente ser feito tendo sido previsto, o propósito de que isto devesse ser feito, seria a eleição. Nenhum homem tem o direito de definir os termos da eleição e a reprovação neste sentido, como para excluir todas as condições, e então insistir que a eleição condicional não é de fato uma eleição.

1 Refiro-me à ordem natural. Com Deus, todo o espaço de tempo é presente. Na ordem do tempo, portanto, todas as idéias e propósitos divinos são contemporâneos. Mas as idéias divinas devem dar sustentação umas às outras de acordo com uma relação lógica. No parágrafo anterior descrevi qual deveria ser a ordem lógica das idéias divinas no tocante à eleição. Pela ordem natural, é planejado que a conexão e a relação de idéias devam ser o resultado da natureza do intelecto.

2 Este parágrafo sofreu objeções como se segue: "Pode-se dizer que a única razão pela qual os não eleitos não são salvos é a sua rejeição à salvação, etc? Não existe alguma outra razão por trás disto? Deus não dá, no caso destes, aquela graciosa influência, que Ele oferece no caso dos eleitos. Se a única razão pela qual os não eleitos não são salvos é a recusa pertinaz que apresentam, então deveria seguir-se que a única razão pela qual os eleitos são salvos é a sua aceitação da salvação. Se estes dois pontos são assim, então por que toda esta discussão sobre eleição ou salvação, e dos meios empregados para esta finalidade, e os motivos que Deus leva em conta para eleger? Toda a questão se resolveria no campo da liberdade de escolha, e Deus permaneceria completamente independente do problema em cada caso. Então não existiria nada como a dita eleição". Esta objeção traz em si a falta de sentido.

 

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